O que é fusariose no café e como controlar essa doença
A busca por avanços tecnológicos e a introdução de novos materiais genéticos vêm impulsionando a produtividade, mas também podem gerar riscos para a cafeicultura. Um deles é a preferência por lavouras clonais em detrimento de plantios por sementes.
Essas lavouras impactam a base genética dos cafezais, fazendo com que doenças como o amarelão do cafeeiro se tornem mais comuns. Um dos patógenos que causam esse mal é o fusarium, responsável pela ocorrência da fusariose no café.
Quer aprender mais sobre essa doença? Neste texto, trazemos uma análise sobre esse desafio enfrentado pelos cafeicultores e seus desdobramentos na cafeicultura nacional. Continue a leitura para ficar por dentro de cada detalhe!
O que é fusariose no café?
A fusariose, também chamada de murcha de fusarium, é uma doença ainda pouco explorada e que resulta em perdas na cultura do café. Ela é causada por diferentes espécies de Fusarium, um patógeno que ataca a lavoura.
Esses ataques acontecem, principalmente, nas fases de orelha-de-onça e palito-de-fósforo. A primeira é o estágio do surgimento do primeiro par de folhas após a germinação do pé. Já a segunda se refere ao crescimento da alça hipocotiledonária, carregando a semente que emerge do solo.
Nos campos abertos, a manifestação da fusariose no cafeeiro ocorre tipicamente em plantas com mais de 10 anos, logo após o período de poda. Nos plantios jovens em áreas comerciais, pode se manifestar em pés de 1 a 2 anos de idade.
Quais as causas dessa doença fúngica?
Assim como a cercosporiose, a fusariose no café é desencadeada por fungos. As diferentes espécies do gênero Fusarium vivem no solo e costumam entrar na planta a partir de ferimentos.
Também vale destacar que a ação simultânea de nematoides (vermes microscópios e geralmente abundantes no solo) pode contribuir para o desenvolvimento da doença em cafezais maduros. Assim, acelera o declínio das plantas.
Além disso, algumas condições climáticas favorecem a fusariose, que tem preferência por solos encharcados e ácidos. Sobretudo, cabe destacar aqui que três fatores parecem estar associados à incidência da doença.
Idade dos cafeeiros
Problemas com fusariose são comuns em cafezais mais antigos devido a práticas de poda, como recepa ou decote, realizadas pelos produtores para renovar a estrutura vegetativa.
Poda frequente
A maior incidência da fusariose no café pode ser explicada pelos ferimentos causados na planta durante a poda, o que abre caminho para a entrada do fungo. Além disso, o uso de ferramentas contaminadas no processo pode contribuir para espalhar a doença no cafezal.
Colheita mecânica
A colheita mecanizada também é um fator relacionado aos ferimentos na planta, o que facilita a entrada do fungo causador da fusariose.
Como identificar fusariose no café?
Os sinais claros da murcha de fusarium ocorrem quando muitas plantas na lavoura começam a mostrar um amarelecimento generalizado nas folhas, aparentando fraqueza.
Algumas começam a brotar após a poda, mas logo os brotos secam e elas morrem. Já outras até regeneram a copa, porém amarelecem na primeira ou segunda safra, secam e morrem. Esses problemas atingem de 30% a 40% das plantas originais que foram podadas. Assim, a lavoura fica falhada.
Outro sintoma característico da fusariose no café é percebido ao cortar o tronco. No lenho, um pouco abaixo da casca, surgem listras de cor vermelho-amarronzada.
Mas por que isso acontece? O motivo é que o fungo obstrui os vasos condutores da planta, impedindo a circulação da seiva para a região aérea do cafeeiro. Com esse fluxo interrompido, o pé de café fica deficiente e acaba morrendo.
Em muitos casos, somente um lado ou determinada haste da planta morre, enquanto o outro permanece normal e verde. Isso ocorre porque a absorção e a translocação da seiva no cafeeiro acontecem de maneira axial. Ou seja, as raízes e os vasos de um lado do tronco fornecem nutrientes apenas para aquele lado específico da planta.
Amarelecimento dos cafeeiros
Você já ouviu falar dessa doença como “amarelão do cafeeiro”? Saiba que outras doenças também provocam o amarelecimento das plantas. Portanto, para uma identificação precisa da fusariose, os sintomas merecem atenção especial.
Eles podem variar conforme o estádio fenológico da planta, sua condição nutricional e o órgão atacado. Em geral, incluem a amarelidão no topo da planta, que começa a desfolhar de cima para baixo, murchando e parando de crescer.
Outros pontos que merecem atenção são a morte no topo da planta, com ramos secos e a perda da folha, seguida pela seca prematura dos frutos. Além disso, há o estrangulamento do ramo, que perde a casca e fica escuro.
Quais outras doenças causam amarelidão no café?
Muitos produtores rurais confundem a fusariose com outras doenças de solo, como a rhizoctoniose e a roseliniose. Acontece que ela apresenta um sintoma bem distinto, que é a podridão seca do caule, logo abaixo do colo. A presença em solos ácidos é outro fator importante para diferenciação.
Em seguida, trazemos mais detalhes sobre essas duas doenças que afetam o cafeeiro. Assim, você não vai confundir com a murcha de fusarium e tomará as medidas mais adequadas de controle quando necessário. Vamos lá?
Rhizoctoniose
Essa doença é mais problemática em viveiros do que no campo. Em regiões com temperaturas elevadas e chuvas intensas, como na região Amazônica, ela pode reduzir drasticamente a área plantada.
A doença geralmente ataca as plantas nas fases iniciais, causando um escurecimento no colo da muda e levando ao tombamento. No campo, ela afeta o colo da planta, com um escurecimento de aparência enegrecida, molhada ou inchada, resultando na perda da casca.
Roseliniose
É comum em cafezais estabelecidos em áreas anteriormente ocupadas por florestas que não foram bem desbastadas. Essa doença é causada pelo fungo Rosellinia bunodes e ataca o sistema radicular das plantas, que escurece e faz a casca se soltar facilmente. Provoca amarelecimento, murchamento, queda de folhas e morte dos ramos.
Essas doenças apresentam sintomas distintos, e a prevenção é essencial para evitar perdas nas lavouras. Por isso, a prática de manejo adequada é fundamental para minimizar os impactos dessas doenças no cultivo de café.
Como manejar a fusariose no café?
Existem poucas informações sobre o comportamento da fusariose no café. Não se sabe como acontece a exata disseminação do patógeno, qual o nível de resistência de diferentes cultivares e quais as condições mais propícias ao seu desenvolvimento.
Porém, a certeza de que a doença pode afetar todas as plantas de uma lavoura torna urgente saber as boas práticas de manejo, especialmente para patógenos do solo, como o Fusarium.
As recomendações incluem:
- evitar ferimentos nas plantas;
- retirar e queimar plantas sintomáticas;
- rotacionar culturas;
- manter boa drenagem do solo;
- evitar trânsito de maquinário contaminado;
- utilizar material propagativo saudável, além do controle biológico.
Como existem produtos comerciais para o controle biológico da murcha de fusarium no café, fica a pergunta: o que fazer para combatê-la?
A saída está em algumas formas de biocontrole por microrganismos naturais no solo. Eles atuam como antagonistas aos patógenos. Isto é, competem por espaço e nutrientes, excretam substâncias antimicrobianas e alteram a composição dos exsudatos radiculares.
Dessa forma, o microbioma do solo tem papel crucial no combate a essas doenças fúngicas do café, mas sua eficácia depende do manejo da área. O fato de não haver registro de fungicida para fusarium ressalta a importância de estratégias de manejo preventivo e controle cultural.
Para prevenir a entrada dos fungos e preservar a saúde do cafezal, é fundamental adotar práticas como:
- usar fungicidas para tratar tocos ou ferimentos após a poda;
- lavar bem as ferramentas utilizadas para evitar a contaminação entre plantas;
- eliminar prontamente plantas doentes;
- queimar restos de poda antes de enterrá-los;
- cortar o tronco abaixo da área afetada (em estágios iniciais da doença).
Quais os riscos do contato humano com o fusarium?
A fusariose também pode atingir pessoas. É uma doença de ocorrência rara que se manifesta de diversas formas ao atingir o corpo. O fusarium afeta órgãos internos e pode causar infecções nos olhos, nos pulmões e nas córneas, por exemplo.
Além disso, ele causa outros problemas, especialmente em pessoas com sistema imunológico comprometido. Os sintomas são variados, desde febre persistente até problemas respiratórios. O diagnóstico é feito clínica e laboratorialmente.
Para se prevenir, é importante tomar as seguintes atitudes:
- lavar as mãos após contato com solo contaminado;
- monitorar condições do ar e da água;
- para agricultores, utilizar equipamentos de proteção individual, como protetores nos olhos, máscara, luvas, roupas adequadas e cuidados com as unhas.
Essa foi nossa análise aprofundada sobre a fusariose no café e os riscos associados a ela, inclusive a possibilidade de contaminação humana. A doença é um grande desafio enfrentado pelos cafeicultores, com desdobramentos que causam prejuízos à cafeicultura nacional.
A fusariose no café pede atenção aos sintomas desde o início e traz à tona a necessidade de estratégias de controle cultural e preventivo. Esse conjunto de ações faz toda a diferença para preservar a vitalidade dos cafezais diante de uma ameaça com muito potencial destrutivo, mas ainda pouco compreendida.
Por fim, agora que você já conhece mais sobre essa doença que ataca o café, descubra como identificar e combater a deficiência nutricional no seu cafezal!