Plano ABC: como funciona a agricultura de baixo carbono?
O plano de agricultura de baixo carbono, ou Plano ABC, como também é conhecido, foi criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O seu principal objetivo é planejar ações estruturadas para transformar a produção desses setores mais sustentáveis.
Para isso, o Mapa estipulou o prazo de dez anos — entre 2010 e 2020. Agora, em uma nova fase, o plano se estende por mais dez anos para aprimorar as metas e alcançar resultados ainda mais expressivos para o setor. Quer saber mais? Então, continue a leitura!
O que é o Plano ABC?
O Plano ABC foi oficialmente denominado Plano Setorial para Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para Consolidação de Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. Ufa! Achou grande? Pois saiba que os objetivos para essa iniciativa são ainda maiores.
O Plano ABC foi elaborado como meio de estabelecer uma política pública que ajudasse os setores agropecuários a incorporarem novas tecnologias, mais modernas e sustentáveis, para os sistemas de produção. O objetivo é minimizar expressivamente as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera e, com isso, frear de vez o impacto do agro no aquecimento global.
Por ser um dos setores que mais movimenta a economia mundial, o agro também pode provocar impacto nos ecossistemas onde está inserido. O empobrecimento do solo, a emissão de gases de efeito estufa, a poluição dos cursos d’água e outros problemas chamaram a atenção para a necessidade de uma iniciativa nessa área.
O Plano começou lá em 2010 e, embora inicialmente tenha sido projetado até 2020, hoje conta com uma versão Plano ABC+, que vai até 2030. O objetivo dessa prorrogação é justamente atualizar o plano, revisar seus objetivos e ampliar os avanços conquistados até aqui.
A nova fase do Plano ABC+ conta com fundos verdes para o financiamento de melhorias, além do monitoramento mais rigoroso das medidas adotadas em relação à agropecuária, principalmente.
Para quem pretende acessar as linhas de crédito disponíveis, vale ressaltar que os projetos financiáveis incluem:
- ABC + Recuperação — para a recuperação de áreas de pasto ou plantio degradadas;
- ABC + Orgânico — para realizar a implantação ou o melhoramento de sistemas orgânicos de produção agropecuária;
- ABC + Plantio Direto — para implementar ou melhorar os sistemas de plantio direto chamados na palha;
- ABC + Integração — para viabilizar os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, suas variações e sistemas agroflorestais;
- ABC + Florestas — para incorporar ou melhorar o manejo de florestas comerciais, incluindo as de uso industrial ou à produção de carvão vegetal;
- ABC + Ambiental — para regularizar e adequar as propriedades quanto à legislação ambiental;
- ABC + Manejo de Resíduos — para implantar ou melhorar sistemas de manejo de resíduos para a geração de energia e compostagem;
- ABC + Dendê — para a criação de florestas de dendezeiro, principalmente em áreas degradadas;
- ABC + Bioinsumos — para fomentar a fixação biológica do nitrogênio e de microrganismos que beneficiam as plantas;
- ABC + Manejo dos Solos — para usar as práticas conservacionistas para proteger os recursos naturais, corrigir a acidez e a fertilidade do solo.
Para isso, foram consideradas todas as possibilidades de integração para as áreas produtivas, a viabilidade da regularização ambiental das propriedades e a conservação dos recursos existentes naturalmente ali. É claro que, junto de tudo isso, a lucratividade do produtor deve ser protegida.
Hoje, há um conjunto de práticas e técnicas agrícolas que permitem alcançar resultados promissores no que diz respeito a uma produção sustentável. No entanto, para que isso se amplie cada vez mais, é fundamental investir também na pesquisa e no desenvolvimento de outras alternativas.
Desse modo, pelos próximos anos, devem ser implementadas novas soluções no que diz respeito à sustentabilidade da cadeia produtiva agropecuária. Entre elas, novas tecnologias e técnicas de manejo cada vez mais precisas para o solo, para a água e para toda a biodiversidade. Dessa forma, o meio ambiente e o produtor vão prosperando juntos.
Qual é a importância do Plano ABC para o agronegócio?
Todo o Plano ABC está voltado para uma agricultura de baixo carbono. Em outras palavras, significa manter ou ampliar o ritmo de produção, sem se utilizar de meios que sejam tão agressivos para o meio ambiente. Obviamente, isso acaba beneficiando o agronegócio de inúmeras maneiras, como as que você verá a seguir.
Melhorias na qualidade do solo
Dentro dos métodos para transformar a produção agrícola em algo mais sustentável, estão práticas como o Sistema de Plantio Direto (SPD) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Ambos são pensados para aumentar a preservação da terra ao mesmo tempo em que otimizam o seu uso para diversos tipos de produção, não apenas agrícola.
O SPD, por exemplo, é um método de práticas agrícolas de conservação do solo que previne problemas com a erosão, com a perda desnecessária e excessiva de nutrientes e das suas características físicas, propiciando melhorias na qualidade do solo, do ar e da água na área.
Já o sistema ILPF permite a combinação de diversos sistemas produtivos dentro de um mesmo espaço, como a criação de animais, o cultivo de lavouras e as coberturas florestais. Isso aumenta a produtividade da terra, enriquece o solo, preserva o ecossistema e ainda diminui o tempo entre as colheitas e as semeaduras, beneficiando diretamente o produtor.
Redução sustentável da emissão dos gases de efeito estufa
Infelizmente, as atividades agrícolas e agropecuárias geram emissão de gases de efeito estufa (GEEs). No entanto, com algumas práticas sustentáveis, é possível diminuir a emissão e ainda contribuir com um ecossistema mais saudável.
A biodigestão de dejetos e carcaças, por exemplo, pode servir como uma fonte sustentável de biogás. Esse gás, por sua vez, pode ser empregado para produzir energia térmica, mecânica e elétrica, o que possibilita alimentar toda a infraestrutura da propriedade rural.
Além disso, uma alternativa é o uso de painéis solares, uma prática crescente e promissora no Brasil, que traz redução de custos operacionais para o produtor e melhor aproveitamento dos recursos à sua disposição, além de tornar a redução da emissão de GEEs mais sustentável no longo prazo.
Fixação de nitrogênio
Obviamente, todo impacto negativo provocado ao meio ambiente afeta diretamente o produtor, seja diminuindo a sua produtividade ou mesmo facilitando interferências negativas, como as pragas e doenças na lavoura, por exemplo. Por isso, o Plano ABC também contribui efetivamente para o melhor desempenho da propriedade por meio da fixação de nitrogênio no solo.
O nitrogênio é essencial para que as plantas cresçam e se desenvolvam. A fixação biológica de nitrogênio é uma alternativa suplementar à adubação, que pode incrementar a produtividade da cultura. Esse processo natural acontece por meio das chamadas bactérias diazotróficas. Elas não prejudicam o meio ambiente e proporcionam maior crescimento de raízes e maior eficiência no uso de N-fertilizantes.
Incorporação de novas fontes de renda
Como você viu, a agricultura sustentável tem como base a integração com outros sistemas produtivos, como a silvicultura ou até mesmo a pecuária. Isso faz com que as áreas de cultivo se tornem mais bem exploradas e consigam manter suas características naturais.
Em sintonia com isso, um produtor rural que antes dependia do resultado da safra de um único tipo de plantio agora pode extrair renda de várias atividades. Portanto, isso é benéfico não apenas para o meio ambiente, mas para os resultados financeiros da propriedade.
Com os sistemas integrados, o produtor não fica à mercê de um único produto. Ele pode equilibrar seus lucros e prejuízos a partir de diferentes rendimentos em segmentos distintos.
Como funciona a agricultura de baixo carbono?
Naturalmente, o solo é responsável por armazenar uma enorme quantidade de carbono. E um meio pelo qual esse gás vai parar lá é pela fotossíntese, ou seja, ele vai através das plantas, ao mesmo tempo em que elas crescem e se desenvolvem.
Então, parte de todo o CO2 capturado pela fotossíntese segue até as raízes das plantas e, posteriormente, para o solo, onde fica armazenado por muito tempo. O grande problema está nas técnicas de preparo do solo, nas queimadas e na drenagem de pântanos, por exemplo, que mexem nesse material e fazem com que ele seja liberado de volta na atmosfera.
A agricultura de baixo carbono, por sua vez, é o processo que objetiva manter o carbono onde ele deve estar e evitar a emissão desse gás por meio de diversos outros processos envolvidos na agricultura. É por isso que o sistema de plantio direto e a rotação de culturas são tão relevantes.
A recuperação de áreas degradadas e os sistemas de plantio que combinam lavouras e florestas, por exemplo, também são ótimas medidas para apostar em uma agricultura de baixo carbono. O mesmo vale para aquelas práticas que estão além das fronteiras da propriedade, como:
- a contratação de energias provenientes de fontes renováveis;
- a parceria estratégica com fornecedores que priorizam a preservação ambiental;
- a compra de insumos mais naturais e menos prejudiciais ao solo etc.
Quais são os principais pontos do Plano ABC?
Como o Plano ABC é bem amplo, ele está dividido em programas que conseguem abranger todos os aspectos relativos a áreas específicas, abordando as tecnologias disponíveis, as linhas de crédito e as necessidades atreladas a cada uma dessas variáveis.
Os pontos são:
- a recuperação de pastagens degradadas, que permite reaver a cobertura vegetal ou mesmo da matéria orgânica que compõe o solo, para torná-lo produtivo novamente;
- a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e os sistemas agroflorestais, que possibilitam integrar diferentes sistemas para aumentar a produtividade de uma área sem danificar o ecossistema;
- o sistema de plantio direto, que usa como base a linha de semeadura, palha de safras e material orgânico para promover a cultura;
- a fixação biológica de nitrogênio, que faz a captação do gás de forma natural e sem degradar a área à sua volta;
- promove a produção de florestas com a combinação de árvores nativas e plantadas, contribuindo para a captação de gás carbônico;
- o tratamento de dejetos animais, que produz adubo orgânico, ao mesmo passo em que inibe a produção de gás metano;
- a adaptação às mudanças climáticas, que estimula o uso sustentável de recursos hídricos, a criação de sistemas diversificados e a promoção da biodiversidade.
Esse plano já foi responsável por evitar a emissão de mais de 170 milhões de toneladas de gás carbônico, equivalente ao longo dos seus dez primeiros anos de duração. Apesar disso, não foram determinadas novas metas para os próximos dez. Em vez disso, o incentivo para essa nova fase fica por conta:
- do lançamento do pacote de estratégias integradas para o gerenciamento das propriedades;
- do apoio à regularização ambiental de todas as propriedades;
- da implementação de um monitoramento das práticas de agricultura de baixo carbono;
- da valorização dos produtores ABC por meio de finanças verdes vinculadas aos resultados obtidos;
- do estímulo aos sistemas agropecuários conservacionistas e sustentáveis;
- do fortalecimento e estímulo às pesquisas para o desenvolvimento de sistemas produtivos, produtos e processos sustentáveis;
- da ampliação de recursos econômicos e fiscais disponíveis para os produtores ABC.
É importante que tudo isso seja incorporado em conjunto com o uso de tecnologia no agronegócio sustentável, aumentando a precisão no campo e munindo o produtor de dados gerenciais confiáveis. Com base nisso, teremos um agro mais sustentável e em equilíbrio com o ecossistema no qual está inserido.
A agricultura, bem como outros sistemas de produção de alimentos, é essencial para o suprimento da demanda mundial por comida e pelos demais insumos vindos do campo. No entanto, é fundamental que essas produções não afetem negativamente o meio ambiente.
Por isso, a agricultura de baixo carbono é uma alternativa viável e atrativa que visa equilibrar o cuidado com o ecossistema e a lucratividade das propriedades rurais. Ela beneficia o produtor rural, o meio ambiente, os consumidores finais e todos os envolvidos direta ou indiretamente com essa cadeia de produção.
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julho 29, 2023 às 7:43 pm
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