Febre aftosa: causas, sintomas e cuidados necessários
A febre aftosa é uma doença que preocupa o mundo por se espalhar rapidamente entre os rebanhos, podendo levar a significativas perdas diretas devido aos sintomas clínicos, com uma consequente queda na produção. Já as perdas indiretas podem ocorrer com os embargos econômicos impostos pelos países importadores.
No Brasil, não há mais casos notificados desde 2006. Contudo, muitos países continuam tentando controlar ou conviver com a doença. Isso porque a febre aftosa é altamente contagiosa entre algumas espécies animais, podendo dizimar criações inteiras.
A seguir, entenda melhor o que é a febre aftosa, quais são as causas e sintomas, como é o tratamento e quais são as principais medidas de prevenção.
Boa leitura!
O que é febre aftosa?
A febre aftosa é uma doença grave e altamente contagiosa, causada por um vírus que acomete os animais de produção — como bovinos, suínos, caprinos e ovinos, entre outros —, especialmente os de cascos bipartidos (fendidos). Contudo, não afeta cachorros, gatos, cavalos ou seres humanos. Raramente essa doença é fatal em animais adultos, mas pode causar mortalidade nos mais jovens.
O vírus é da família Picornaviridae, gênero Aphtovirus. Atualmente, há seis sorotipos em determinadas regiões do mundo: A, O, SAT1, SAT2, SAT3 e Asia1. No Brasil, foram detectados apenas os sorotipos A, O e C — ainda que esse último não seja encontrado desde 2004.
Consequências sociais e econômicas
Essa enfermidade causa grandes perdas na produção de leite e carne. Também provoca outros transtornos aos criadores, como o impedimento da comercialização de animais e seus produtos ou subprodutos em âmbitos local e internacional.
Por se tratar de uma doença com grande potencial para se alastrar com rapidez, com graves consequências sociais e econômicas, é uma das enfermidades de animais mais combatidas.
Sua notificação é obrigatória, conforme o Código Sanitário para Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e a Instrução Normativa n.º 50/2013 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Como ela é causada?
A febre aftosa é causada por um vírus, com mais de sete tipos de cepas identificadas e mais de 60 subtipos. A imunidade a um deles, contudo, não protege o animal contra os demais. Após ser infectado, os primeiros sinais da doença costumam se manifestar entre dois e 14 dias, que é o período de incubação.
O vírus sobrevive nos tecidos da carne e do couro, no trato respiratório, na saliva, na urina e em demais excreções dos animais afetados, como sêmen e fezes. Além disso, também contamina o ambiente e os materiais por vários meses, dependendo da temperatura. Ele é sensível ao pH, sendo inativado nas faixas inferiores a seis ou superiores a nove, assim como em temperaturas acima de 60 °C.
Como ocorre a transmissão?
Conforme o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a transmissão aérea do vírus — inclusive, por longas distâncias — pode ocorrer dependendo do clima.
Outra forma comum de transmissão é por meio da movimentação mecânica de animais, pessoas, veículos e máquinas que tenham contato com gado ou ambientes contaminados. Assim, carretas, caminhões, currais e demais ambientes de embarque são fontes perigosas de contaminação.
Por isso, é importante realizar uma desinfecção constante, especialmente em casos de suspeita da doença. Afinal, a gravidade da febre aftosa está relacionada diretamente com a facilidade com que o vírus consegue se disseminar.
Os bovinos são os hospedeiros mais suscetíveis à infeção por via respiratória, sendo importantes para a manutenção do ciclo epidemiológico da doença na América do Sul. Em geral, são os primeiros a manifestarem os sintomas.
Já os suínos são mais susceptíveis ao vírus pela via digestiva, especialmente por meio da ingestão de produtos de origem animal contaminados — como carne, leite, ossos, queijo e outros. Eles são considerados hospedeiros que amplificam a disseminação por eliminarem uma grande quantidade de vírus quando infectados.
A febre aftosa raramente atinge os seres humanos, pois não é transmitida a nós pelo consumo de leite ou carne contaminados. As poucas ocorrências na literatura se referem a pessoas que manuseavam diretamente os animais contaminados. Nesses casos, foram registrados o surgimento de bolhas nas mãos.
Nos humanos, o vírus pode sobreviver por 24 a 48 horas no sistema respiratório, podendo ser transmitido caso não sejam tomadas medidas preventivas. Contudo, a febre aftosa não representa risco à saúde pública: por serem raros os casos em humanos, é considerada de pouca importância.
Quais são os principais sintomas?
Os sintomas mais conhecidos da enfermidade incluem vesículas semelhantes a bolhas, que estouram em um curto espaço de tempo e causam erosões na boca ou nos pés. Com isso, há uma salivação excessiva ou claudicação (manqueira).
A gravidade dos sinais clínicos depende de diferentes fatores, como a cepa envolvida, o grau de exposição, a idade e a imunidade dos animais infectados. Os sintomas comuns incluem febre, depressão, perda de apetite, perda de peso e queda na produção. A mortalidade pode atingir 100% da população suscetível, com baixo índice em animais adultos.
Os sinais clínicos clássicos afetam:
- cascos;
- cavidade oral;
- língua;
- tetas.
Já nos bovinos, os principais sinais são:
- vesículas — íntegras ou rompidas, na forma de bolhas, úlceras ou cicatrizes — nas mucosas oral e nasal, no focinho, na banda coronária, no espaço interdigital e na glândula mamária;
- febre alta;
- perda de peso;
- enfraquecimento;
- sialorreia;
- descarga nasal;
- claudicação crônica;
- prostração;
- diminuição na produção de leite;
- malformações de casco;
- mastite.
Os animais jovens podem ir a óbito pela miocardite provocada pela doença. Já os adultos, em geral, conseguem se recuperar em cerca de duas a três semanas — porém, as infecções secundárias podem atrasar a recuperação.
Os suínos geralmente desenvolvem lesões severas nas patas, levando a descolamento de cascos e dificuldade de locomoção. A temperatura costuma ser próxima do normal. As lesões na boca são menores e menos aparentes, com rara salivação. Também podem surgir vesículas no focinho e no úbere. Os leitões jovens podem morrer em decorrência de falha cardíaca.
Qual é o tratamento para a febre aftosa?
Essa doença não tem tratamento, podendo haver uma recuperação natural do animal entre duas e três semanas, como dito anteriormente. Contudo, por ser uma enfermidade de alto contágio, todos os afetados devem ser sacrificados para evitar a disseminação da doença.
Dessa forma, assim que o proprietário do animal suspeitar de um caso, ele comunicar rapidamente ao Serviço Veterinário Oficial (SVO) do estado. Assim, será possível realizar o diagnóstico preciso e tomar as medidas sanitárias adequadas.
Quais são os riscos?
Os bovinos são muito sensíveis ao vírus da febre aftosa. Por isso, quando instalado um foco, ele pode se disseminar rapidamente para as demais regiões por causa da movimentação e do transporte de animais. É por esse motivo que a enfermidade é considerada de difícil controle e grande impacto econômico na produção.
Nesse sentido, a vacinação é uma importante ferramenta para erradicar e prevenir a doença. Dessa forma, se o animal for infectado, ele apresentará uma baixa carga viral devido à alta quantidade de anticorpos produzidos pelo organismo após a vacina.
Como prevenir a febre aftosa?
A prevenção da doença deve ser feita por meio da vacinação. Na América do Sul, a vacina contra a febre aftosa utilizada é a inativada trivalente contra os tipos A, O e C.
Atualmente, ela é realizada na maioria dos estados brasileiros, existindo somente algumas regiões — consideradas zonas livres da doença — sem a vacinação, por não ser mais necessária.
Cuidados para o controle da doença
Os pecuaristas precisam ter muito cuidado na hora da aquisição e movimentação do rebanho, incluindo as situações que envolvem a participação dos animais em eventos de concentração, como leilões, exposições e rodeios, entre outros.
Para qualquer movimentação ou transferência de titularidade, deverá ser exigida a Guia de Trânsito Animal (GTA). Esse documento é emitido somente para propriedades que cumprem com as determinações legais para o controle da febre aftosa e de outras doenças.
Identificação de casos de infecções
Produtor, mesmo que você não seja especialista e não possa efetivamente diagnosticar a doença, pode reconhecer facilmente os sinais clínicos. Caso eles sejam encontrados, é preciso comunicar imediatamentea o serviço veterinário oficial mais próximo.
Assim que for notificado, o órgão responsável indicará restrições à fazenda enquanto é feita uma investigação. Em caso de confirmação da doença, é realizada uma ampla comunicação do caso e traçado um plano de ação.
Nesse planejamento, é determinando um raio de possível contaminação e investigação epidemiológica, havendo a suspensão da comercialização dos produtos. Em seguida, é estabelecido o desinfetante a ser utilizado e os animais que precisam ser sacrificados. Quanto mais rápido for realizada a identificação do gado comprometido, mais rápida será a recuperação sanitária.
Dessa forma, o sacrifício sanitário, assim como a desinfecção dos ambientes e objetos que podem ter entrado em contato com os animais, são as principais medidas de controle da doença.
Além dessas, outras ações necessárias incluem:
- destruição de cadáveres e de produtos de zonas contaminadas;
- medidas de quarentena;
- proteção de zonas livres com vigilância de animais nas fronteiras;
- vacinação para as zonas de risco.
Quando vacinar os animais?
A vacinação do rebanho deve ser feita de maneira correta e nos períodos previstos conforme o calendário nacional de vacinação. É importante fazer a declaração de vacinação e entregá-la, no prazo, ao Serviço Veterinário Oficial (SVO) do respectivo estado, junto com a nota fiscal de compra das vacinas.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil tem a expectativa de se tornar totalmente livre da febre aftosa até 2026. Enquanto isso não ocorre, as zonas de risco devem ser submetidas à vacinação. Atualmente, os estados declarados como zonas livres de febre aftosa sem vacinação são:
- Acre;
- Paraná;
- parte do Amazonas e do Mato Grosso;
- Rio Grande do Sul;
- Rondônia;
- Santa Catarina.
Para avançar no status de “livre de febre aftosa com vacinação” para “livre de febre aftosa sem vacinação”, o Mapa criou o Plano Estratégico do PNEFA. Esse planejamento dividiu o país em blocos com estados que apresentam características semelhantes de comércio e trânsito de animais.
O estado de São Paulo, por exemplo, faz parte do bloco 4, assim como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Rio de Janeiro e Tocantins, além do Distrito Federal.
Segundo dados da Defesa Agropecuária do estado de São Paulo (GEDAVE) sobre a evolução da febre aftosa, o Brasil não registra nenhum caso desde 2006 — em 2005, foi registrada a ocorrência do vírus nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Já o estado de São Paulo registrou a última ocorrência em 1996.
Ainda conforme esse histórico, no ano de 2000, o estado de São Paulo foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como livre de febre aftosa com vacinação. Contudo, em 2005, tal reconhecimento foi suspenso devido à reintrodução do vírus nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o aumento das estratégias para controle da doença, o reconhecimento de zonas livres foi restituído em 2008.
De acordo com a GEDAVE, essa restituição do reconhecimento incluiu outros estados, como o Distrito Federal, a Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Tocantins, Sergipe e Rio de Janeiro. Em 2018, o território nacional foi reconhecido como área livre de febre aftosa, assim como grande parte da América do Sul.
Isso foi possível com os esforços conjuntos de setores, órgãos governamentais e profissionais da área, com o emprego de medidas para o controle da doença.
Recentemente, o Mapa estabeleceu que, após a etapa de novembro de 2023, São Paulo suspenderá a vacinação contra a febre aftosa. Essa medida permitirá que o Brasil avance na consecução do PNEFA 2017-2026.
Cuidados com as vacinas
As vacinas são inovações tecnológicas para o agronegócio. Porém, são muito sensíveis por conter microrganismos vivos, precisando de cuidados especiais para a conservação e para evitar desperdícios — o que poderia gerar a elevação de custos para a produção.
Conforme o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) estabelece, é necessário utilizar equipamentos com capacidade de armazenamento e conservação dos produtos. Em geral, a temperatura deve ficar entre 4 e 8ºC e precisa ser verificada duas vezes por dia.
Além disso, é necessário ter um bom planejamento devido à validade das vacinas. Assim, certifique-se de deixar as que apresentam vencimento próximo na parte da frente do estoque. Dessa forma, elas serão aplicadas primeiro, reduzindo o risco de desperdício.
Conforme mostramos ao longo deste artigo, a febre aftosa provoca grandes prejuízos econômicos e sociais, afetando os negócios, as famílias e os produtores, além de comprometer a segurança alimentar. Os maiores impactos se concentram na queda do bem-estar animal e da produção, devido ao poder de amplificação do vírus.
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