O que é e como utilizar a agricultura de baixo carbono?
A adoção de práticas que visam ao cuidado com o meio ambiente se tornou o foco central nos últimos anos. Segundo estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento da temperatura mundial em 1,5ºC já é uma realidade, de modo que todos os setores econômicos precisam fazer a sua parte. É aí que encontramos o que ficou popularmente conhecido como agricultura de baixo carbono.
Como uma resposta para mitigar as mudanças climáticas, diminuindo as emissões de gases de efeito estufa, essa prática ganhou espaços e até incentivos federais. Quer saber como é possível implementá-la em seu negócio?
Neste texto, vamos explicar o que você pode fazer. Confira!
O que é agricultura de baixa emissão de carbono?
Quando se trata da emissão de gases de efeito estufa, o Brasil está entre os maiores emissores, perto de grandes potências, como Estados Unidos, China e Rússia. Atualmente, já sabemos que a grande concentração desses gases na atmosfera dificulta a dispersão do calor para o espaço, afetando diretamente os padrões climáticos do planeta, provocando eventos extremos recorrentes.
Sendo assim, os sistemas produtivos de baixa emissão de carbono são fundamentais para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas.
E é disso que se trata a agricultura de baixo carbono: uma série de sistemas de produção e práticas sustentáveis que visam realizar o controle, a diminuição e a remoção de gases de efeito estufa lançados na atmosfera.
Quais são os benefícios?
Os benefícios da agricultura de baixa emissão de carbono vão além da mitigação das mudanças climáticas, pois resultam em aumento de produtividade e da conservação de solo, água e biodiversidade. Elementos fundamentais para a perenidade do agronegócio.
Com a melhoria das qualidades físico-químicas do solo e a intensificação da produção em uma mesma área, há também a redução da pressão por abertura de novas áreas com cobertura vegetal nativa para a produção, contribuindo para a conservação dos biomas brasileiros.
O que é o plano ABC?
Entre as iniciativas por parte da esfera pública que contribuem para a agricultura de baixo carbono, podemos citar o plano ABC: Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono da Agricultura. Sua origem vem da Política Nacional sobre Mudança do Clima – Lei 12.187/2009.
O Plano foi elaborado em 2010 e dividido em sete programas: seis são referentes às tecnologias de mitigação e um às ações de adaptação às mudanças climáticas. Sendo assim, é composto por:
- programa 1: recuperação de pastagens degradadas;
- programa 2: integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e sistemas agroflorestais (SAFS):
- programa 3: sistema plantio direto (SPD);
- programa 4: fixação biológica de nitrogênio (FBN);
- programa 5: florestas plantadas;
- programa 6: tratamento de dejetos animais;
- programa 7: adaptação às mudanças climáticas.
Plano ABC+
Em 2020, o Plano ABC passou por uma revisão, visando determinar iniciativas para os próximos dez anos. Dessa maneira, tornou-se o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, com vistas ao Desenvolvimento Sustentável ou, simplesmente, Plano ABC+.
O ABC+ tem o objetivo de promover a adaptação à mudança do clima e o controle das emissões de gases de efeito estufa na agropecuária brasileira, considerando uma gestão integrada da paisagem rural.
As principais alterações trazidas por esse plano são a inclusão de três novos Sistemas, Práticas, Produtos e Processos de Produção Sustentáveis (SPSABC):
- sistema de plantio direto em hortaliças (SPDH);
- sistemas irrigados (SI);
- terminação intensiva (TI).
Outras alterações nos sistemas já existentes foram:
- SAF: sistemas agroflorestais, junto ao sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, formam a tecnologia de sistemas de integração;
- PRPD: práticas para recuperação de pastagens degradadas passam a considerar a recuperação e a renovação de pastagens com algum grau de degradação;
- bioinsumos: inclui fixação biológica de nitrogênio (FBN) e micro-organismos promotores do crescimento de plantas (MPCP);
- MRPA: o manejo de resíduos da produção animal considera outros restos, além de dejetos animais, e estimula o uso dos subprodutos obtidos, como bioenergia e biofertilizante.
Estratégias para implementação da agricultura de baixo carbono
A agricultura de baixo carbono não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma oportunidade para aumentar a produtividade e garantir a sustentabilidade a longo prazo.
Neste segmento, vamos explorar estratégias práticas que os produtores podem adotar para integrar essas práticas em suas operações, contribuindo para um futuro mais verde e sustentável.
Avaliação inicial da propriedade
Antes de implementar mudanças, é fundamental realizar um diagnóstico detalhado da propriedade. Avalie o uso atual de recursos, como água, solo e insumos, além de identificar as práticas agrícolas que estão sendo utilizadas.
Compreender a saúde do solo e as emissões atuais de gases de efeito estufa ajudará a definir um ponto de partida e a priorizar áreas que necessitam de melhorias.
Capacitação e treinamento
A capacitação é essencial para garantir que todos os colaboradores estejam alinhados com as novas práticas. Considere investir em cursos e workshops sobre técnicas de agricultura de baixo carbono, como manejo sustentável, uso de bioinsumos e tecnologias de precisão.
Além disso, busque parcerias com universidades e instituições de pesquisa que possam oferecer treinamentos especializados.
Seleção de sistemas de produção
Com base na avaliação inicial e no conhecimento adquirido, escolha sistemas de produção que se adequem às características da sua propriedade.
O sistema de plantio direto, por exemplo, reduz a erosão e melhora a retenção de água. A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode otimizar o uso da terra e aumentar a biodiversidade. Avalie também o uso de bioinsumos, que podem melhorar a saúde do solo e reduzir a dependência de fertilizantes químicos.
Monitoramento e avaliação
Após a implementação das novas práticas, é crucial monitorar continuamente os resultados. Estabeleça indicadores de desempenho que avaliem tanto as emissões de carbono quanto a produtividade agrícola.
Utilize ferramentas de tecnologia, como softwares de gestão agrícola, para coletar dados e fazer análises que ajudem a ajustar as práticas conforme necessário.
Aproveitamento de linhas de crédito
Para viabilizar os investimentos necessários, explore as linhas de crédito disponíveis, como o Programa ABC e o FCO Verde. Essas opções de financiamento são voltadas especificamente para projetos que visam à redução das emissões de gases de efeito estufa.
Prepare um plano de negócios detalhado que demonstre como os recursos serão utilizados e os benefícios esperados.
Relacionamento e parcerias
O intercâmbio de experiências e conhecimentos pode ser um grande diferencial. Construa uma rede com outros produtores, associações agrícolas e instituições que promovem a agricultura de baixo carbono.
Participe de eventos e feiras do setor, onde é possível trocar ideias e aprender com as experiências de outros. Parcerias podem facilitar o acesso a recursos e tecnologias inovadoras.
Comunicação dos resultados
A transparência sobre as práticas adotadas e os resultados alcançados é fundamental. Compartilhe as melhorias obtidas em termos de produtividade, conservação ambiental e redução de emissões com seus clientes e na comunidade.
Utilize, por exemplo, redes sociais para alcançar clientes e encontros com outros produtores, como reuniões em cooperativas.
Quais as possibilidades de investimento?
É preciso ter em mente que, para a implementação da agricultura de baixo carbono, é necessário realizar alguns investimentos, principalmente em relação ao nível tecnológico e da atividade empregada.
Por exemplo, o sistema de plantio direto na palha para cultivos agrícolas, como soja, milho, feijão e sorgo, requer maquinário adequado durante o período de plantação.
Em muitos casos, já é uma prática consolidada na propriedade, mas será preciso investir em melhorias no processo para garantir todas as vantagens, como o aumento do carbono orgânico no solo, da retenção de água no solo e a redução dos efeitos erosivos.
Linhas de crédito
Como explicamos no tópico anterior, serão necessários alguns investimentos para a implementação desse tipo de agricultura. Visando incentivar a adoção de medidas para diminuir as emissões por parte do setor agropecuário, existem algumas linhas de crédito que fornecem financiamentos com esse objetivo. Vamos conhecer as principais!
Programa ABC
O Plano ABC conta com uma linha de crédito chamada Programa ABC. Trata-se do financiamento de projetos que resultem na redução das emissões de gases de efeito estufa nas atividades agropecuárias. Entre seus principais objetivos estão:
- reduzir o desmatamento;
- aumentar a produção agropecuária em bases sustentáveis;
- adequar as propriedades rurais à legislação ambiental; e
- ampliar as regiões de florestas cultivadas e incentivar a restauração de áreas degradadas.
FCO Verde
A linha de crédito do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO Verde) tem como objetivo financiar os serviços e custos relacionados à regularização ambiental e fundiária dos imóveis rurais, assim como implantar sistemas produtivos e tecnologias voltadas à redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.
Pronaf
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) possui diferentes linhas de créditos, e as voltadas para as práticas ABC são:
- Pronaf Floresta: relacionado aos sistemas agroflorestais, ao extrativismo ecologicamente sustentável, ao projeto de manejo e manuseio florestal, à restauração e manutenção de áreas de preservação permanente e à reserva legal e de áreas degradadas;
- Pronaf Bioeconomia: nesse caso, financia tecnologias de energia renovável e a substituição de tecnologia de combustível fóssil por renovável nos equipamentos e máquinas agrícolas. Também financia o tratamento de dejetos e efluentes, a adequação ambiental das propriedades, a silvicultura, os sistemas agroflorestais, entre outros;
- Pronaf Agroecologia: financiamento de projetos voltados aos sistemas de base agroecológica ou orgânica.
Como o Broto pode ajudar você a aplicar ABC no seu negócio?
A linha de crédito ABC, entre outras, exige uma visão ampla de propriedade, e não apenas de financiamento a itens financiados. Até porque um dos objetivos é a redução da emissão de gases de efeito estufa em todas as esferas da produção rural.
Um dos grandes desafios é que, além das finanças, é preciso capacitar os produtores e empresas de assistência técnica com conceitos de mitigação de mudanças climáticas e modelos de produção que proporcionam os benefícios que envolvem o ambiente e o clima.
Broto auxilia justamente na divulgação das práticas e dos sistemas de produção ABC, mostrando os benefícios do programa. Por meio de palestras e cursos, conseguimos a capacitação de produtores e de empresas de assistência técnica. Assim, ajudamos na efetivação da agricultura de baixo carbono.
Até aqui, você pôde entender o que é agricultura de baixa emissão de carbono e como implementá-la. Caso esteja procurando por financiamento para a sua produção, acesse a página de soluções de crédito do Banco do Brasil no Broto.
agosto 10, 2023 às 8:26 pm
Eu quero planta cacau qual o melhor sistema pra não desmata muito?
agosto 24, 2023 às 3:47 pm
Oi, Raimundo! Como vai? Interessante a sua dúvida. Demos uma olhada no site da Embrapa e encontramos um exemplo de expansão sustentável do cacau extremamente benéfica para a Amazônia. Dá uma olhada nesta página. Muito obrigado pela sua participação. Abraço e sucesso na plantação do cacau.