
O que esperar do clima para o arranque da safra 2021/2022
Ano novo, safra nova. No caso dos produtores brasileiros (especialmente na região Centro-Sul), que têm enfrentado seca e estiagens nos últimos anos, o planejamento deve ser ainda mais cuidadoso. Como de costume, diversos fatores, como os fenômenos climáticos e sistemas de produção, podem impactar o resultado final da lavoura.
Por isso, preparamos um post para que você saiba quais fenômenos podem impactar a produção nacional. Além disso, mostraremos as tendências do clima para o arranque da safra 2021/2022. Boa leitura!
Fenômeno Enos (El Niño/La Niña)
El Niño e La Niña são componentes, quase que antagônicos, de um mesmo fenômeno, conhecido como Enos (El-Niño Oscilação Sul), que ocorre na região do oceano Pacífico Equatorial.
O Enos é composto por uma fase quente (El Niño), quando as águas daquele oceano se encontram mais aquecidas do que a média histórica, e por uma fase fria (La Niña), quando o Pacífico está mais resfriado do que o normal.
Pode parecer uma região distante demais para influenciar significativamente no regime de chuvas e temperaturas aqui no Brasil. Entretanto, devemos ressaltar que, tanto nos oceanos quanto na atmosfera, existem padrões de conexões e circulações que promovem um “efeito-cascata” ao redor do globo.
Na prática, o fenômeno Enos altera o padrão de circulação da atmosfera na região equatorial, e isso afeta a distribuição de chuvas em diversas partes do mundo, causando maiores volumes de chuva em algumas regiões e ampliando a estiagem em outras.
Como exemplo, podemos citar o que ocorre no Brasil: o que se observa historicamente é que o fenômeno normalmente resulta em chuvas acima (El Niño) ou abaixo (La Niña) do esperado sobre o sul do país. Já no Nordeste, os fenômenos resultam justamente no contrário.
Enos: condições atuais e previstas
É interessante notarmos o que mostra o Centro de Previsão Climática da Agência Norte-Americana de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), em seu último relatório sobre as condições atuais e previstas do ENOS.
Esse estudo aponta que os próximos meses de primavera devem ser marcados pela transição da neutralidade do fenômeno para La Niña de fraca intensidade (com picos de anomalias previstos entre -0,5 e -0,9ºC).
Ainda segundo a NOAA, a probabilidade de que o La Niña se mantenha em nosso verão é de 70 a 80%. Por enquanto, o pico do fenômeno está previsto para ocorrer entre dezembro e janeiro.
Dependendo da intensidade do fenômeno, este poderá influenciar as lavouras brasileiras em um período extremamente crítico para o enchimento de grãos de soja. Isso tende a afetar, principalmente, os estados do centro-sul e que iniciaram o plantio dessa cultura entre setembro e outubro.
Nesse sentido, é importante conferir mensalmente as atualizações dos boletins climáticos, emitidas por órgãos competentes nacionais e internacionais, para acompanhar a evolução do fenômeno e seus possíveis efeitos na safra brasileira.
Distribuição das chuvas e arranque da Safra 21/22
Em 2020, o início da estação chuvosa atrasou em importantes regiões produtoras, como Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Esse atraso nas chuvas afetou significativamente o avanço do plantio dos grãos de verão nessas regiões.
Em 2021, diferentemente do ano anterior, não há grande expectativa de atraso nas chuvas, uma vez que até a segunda quinzena de outubro a expectativa é de que grande parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já tenham acumulados agrícolas de chuvas, permitindo maior avanço nos trabalhos de campo para a realização do plantio da nova safra.
Com relação ao prognóstico sazonal de precipitação (expectativas de chuvas para o trimestre outubro-novembro-dezembro), a maioria dos modelos climáticos de órgãos nacionais e internacionais aponta para chuvas ligeiramente abaixo da média sobre a maior parte do centro-sul do Brasil, abrangendo: sul do Mato Groso do Sul, São Paulo, sul de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Nas demais regiões, como a porção norte do Mato Grosso. Goiás e as regiões Norte e Nordeste, a tendência é de chuvas variando entre índices próximos à média histórica ou ligeiramente acima do normal.
Produtividade esperada ainda impressiona
Em um dos nossos países vizinhos, a Argentina, os impactos negativos sobre culturas como soja e milho já são tidos como certos. Não à toa, a Bolsa de Grãos de Rosário já alerta sobre reduções de chuvas que podem chegar até a 30% em relação à safra anterior.
Já no Brasil, existe o risco de que a estiagem causada pelo fenômeno impacte algumas áreas justamente mais ao sul, próximo à Argentina. É esperado que La Niña tenha influência até o próximo outono — e um sinal de que ele já está se iniciando é o resfriamento da temperatura no Oceano Pacífico. T
Tal fato tem como consequência a seca atual no país. Em agosto de 2021, as previsões em relação à safra 2021/2022 eram um pouco mais animadoras. De acordo com Guilherme Ribeiro, presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), poderíamos esperar números recordes em relação às lavouras brasileiras.
Segundo Ribeiro, a estimativa é que os produtores brasileiros gerem cerca de 289 milhões de toneladas de grãos em 2021/2022. Ele aponta dois produtos em especial, a soja e o milho. O primeiro deles deve garantir o Brasil como o maior exportador dessa cultura (posição que o nosso país já ocupa).
Já em setembro, um novo levantamento mostrou que a produtividade esperada seria menor que nos anos anteriores. Nesse novo estudo, a Conab demonstrou que a safra nacional de grãos fecha o seu ciclo com um volume estimado em 252, 3 milhões de toneladas, uma redução total de 1,8% em relação ao período 2019-2020.
Além disso, esse novo relatório mostra que a nova estimativa chega a 1,6 milhão de toneladas a menos em relação ao levantamento realizado em agosto. De qualquer modo, é interessante notar que os números ainda impressionam, já que os produtores brasileiros se mostram aptos a atender à demanda mundial.
É importante entender que os dados da Conab são uma referência precisa para o agronegócio brasileiro. Com eles, é possível mensurar a necessidade de produção e diminuir a pressão inflacionária que advém da retomada mundial do comércio, após a pandemia do coronavírus.
Você pode estar se perguntando: se um fenômeno como La Niña parece ter impactos tão significativos na safra brasileira, como as perspectivas ainda podem ser tão otimistas?
Isso se dá pelo fato de que as projeções climáticas ainda apontam para um fenômeno de fraca intensidade, que, a princípio, não deve trazer impactos marcantes à safra nacional. No entanto, essas projeções podem ser revisadas conforme a evolução do cenário climático e seus potenciais impactos sobre o Brasil.
Apesar disso, os excelentes resultados da produção agrícola nacional, ano após ano, demonstram a pujança do agronegócio brasileiro, uma vez que os produtores têm conseguido se reinventar.
Produtores têm adotado sistemas de produção e práticas de manejo mais resilientes e sustentáveis. Assim, conseguem se manter produtivos, apesar das intempéries climáticas, como as secas e estiagens.
Boas práticas para enfrentar estiagens
A estiagem é uma das intempéries climáticas que mais comprometem a produção agrícola. Como são situações incontornáveis, cresce a importância da adoção de boas práticas de manejo, tendo em vista aumentar a resiliência do sistema produtivo.
Somente através do manejo adequado do solo e do aumento da capacidade de armazenamento de água é possível tirar maior proveito do período chuvoso, tornar-se mais resiliente aos períodos de estiagens e, dessa forma, obter maior produtividade. Essa é uma das principais dicas para produtores desfrutarem de um bom arranque na safra 2021/2022.
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