Piscicultura: guia completo e dicas de como iniciar nessa atividade
Um dos principais objetivos deste blog é dialogar diretamente com as pessoas que nos acompanham, abordando temas de interesse dos produtores brasileiros. Por isso, com base na sugestão do leitor Márcio Dias, do Rio Grande do Sul, preparamos este artigo sobre piscicultura.
A piscicultura envolve a criação de peixes em ambientes controlados e tem desempenhado papel importante na produção alimentar e econômica no Brasil. Essa atividade abrange uma variedade de métodos e sistemas, cada um adaptado para atender a diferentes objetivos de produção.
Em seguida, mostraremos o que é essa atividade, os principais sistemas de cultivo, o panorama atual no Brasil e, claro, como iniciar na piscicultura. Boa leitura!
O que é piscicultura?
Piscicultura é a ciência que estuda e cria técnicas para o cultivo e a reprodução dos peixes. Essa prática é realizada em condições especiais, com o controle da qualidade da água e de elementos como a iluminação e a temperatura.
A piscicultura pode ser implementada tanto em ambientes de água doce como salgada, sendo que, no segundo caso, ela é conhecida como maricultura.
Um dos principais objetivos é garantir uma variedade maior de produtos para os consumidores, embora também existam cultivos com finalidades esportivas e ornamentais.
Na piscicultura, os animais são criados tanto em ambientes naturais, como lagoas e lagos, quanto em tanques artificiais específicos para essa finalidade. Entre os métodos produtivos, há viveiros escavados diretamente no solo, tanques-rede e gaiolas flutuantes.
Cenário atual
Os peixes são uma opção saudável de proteína animal, o que tem gerado aumento de demanda, já que a sociedade está cada vez mais atenta às questões de saúde e bem-estar.
Nesse contexto, a piscicultura vem se expandindo desde a década de 1990 em nosso país, com base nas condições favoráveis ao desenvolvimento dessa prática.
Entre as espécies que mais têm se destacado na produção nacional, estão:
- tilápia, muito cultivada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil;
- tambaqui e pirarucu, mais facilmente encontrados no Norte;
- carpa, principalmente para exportação.
Quais são os sistemas de cultivo na piscicultura?
Existem quatro sistemas de cultivo na piscicultura, seja com foco em subsistência ou alta produtividade e comercialização. Em seguida, explicamos um pouco mais sobre eles.
Sistema extensivo
O sistema extensivo é uma ótima opção para a criação de diversas espécies de peixes em um mesmo ambiente. Nesse modelo, os produtores mantêm os animais juvenis em lagos e represas até a captura.
De modo geral, a estocagem é realizada a cada 5 m² por peixe, sem a utilização de aeradores ou de reação. Isso porque a alimentação é feita de forma mais natural, como modo de equilibrar o ecossistema.
Esse modelo é ótimo para produtores que queiram realizar a piscicultura na própria área e com a ambição de venda no comércio local.
Sistema semi-intensivo
Já no sistema semi-intensivo, a criação pode ser realizada em viveiros, lagos e represas. Nesse modelo, os peixes são alimentados com ração até o momento de serem comercializados. É uma boa opção para produtores que queiram apostar no policultivo — quando duas ou mais espécies convivem no ambiente.
O cultivo semi-intensivo é muito interessante para quem deseja começar ou manter uma escala menor de produtividade. Tem foco na comercialização para pequenos comércios e vendedores locais.
Sistema intensivo
Nesse sistema, os produtores já começam a pensar em um mercado e produção mais amplos. Dessa forma, o modelo intensivo exige mais tempo e preparo, tornando-o uma boa opção para que a piscicultura seja a prioridade no ambiente.
No sistema intensivo, é preciso investir em equipamentos próprios e tecnologia para manter a qualidade da água. Os produtores também devem ficar atentos às fases de engorda e recria, assim como à prática do monocultivo. Além disso, devem tomar cuidado para garantir uma boa ração.
As tilápias tailandesas e vermelhas costumam ser uma opção interessante nesse sistema, já que esse tipo de peixe não costuma conviver bem com outras espécies.
Sistema superintensivo
Por fim, o sistema superintensivo é talvez a melhor opção para quem quer uma alta produtividade. Ele exige diversos tipos de tanques de piscicultura e o monitoramento para que a alimentação seja de boa qualidade.
Nesse sistema, as tilápias também são perfeitas para manter a alta produtividade. Não à toa, esse peixe tem sido um dos principais itens de exportação em nossa balança comercial.
O modelo superintensivo comporta até 40 mil quilos de peixes por hectare.
Como começar na piscicultura?
Ingressar na piscicultura é uma jornada ao mesmo tempo complexa e empolgante, repleta de oportunidades para quem deseja viver do cultivo de peixes.
Em seguida, apresentamos algumas dicas, que vão desde a construção da infraestrutura até a escolha criteriosa das espécies, bem como os cuidados fundamentais. Confira!
Infraestrutura inicial
Começar um negócio na piscicultura demanda uma infraestrutura sólida. Assim, o primeiro passo é a seleção cuidadosa do local, levando em consideração fatores cruciais como topografia, qualidade da água e acessibilidade a recursos essenciais.
A construção de viveiros, tanques ou açudes é um pilar fundamental e deve ter um planejamento estratégico — considerando a quantidade projetada de peixes e as especificidades das espécies escolhidas.
A instalação de sistemas de aeração é imperativa para manter a qualidade da água, vital para o bem-estar dos peixes. Paralelamente, para criar e manter o ambiente ideal. é necessário implementar tecnologias para monitorar parâmetros como temperatura e oxigênio.
Em resumo, eis os principais elementos necessários para criar uma base sólida e eficiente:
Escolha do local
Selecione um local adequado, considerando fatores como topografia, qualidade da água e acessibilidade. A topografia do terreno deve permitir a construção eficiente de viveiros ou tanques, evitando áreas propensas a inundações.
Construção de viveiros ou tanques
Decida entre a construção de viveiros, tanques escavados ou açudes, dependendo do escopo do projeto e da disponibilidade de recursos hídricos. Além disso, certifique-se de que a infraestrutura seja capaz de suportar a capacidade de produção planejada.
Sistemas de aeração
Instale sistemas de aeração para manter a qualidade da água. Afinal, uma aeração eficiente garante níveis adequados de oxigênio, essenciais para a saúde dos peixes.
Tecnologia de monitoramento
Implemente tecnologias para monitorar parâmetros como temperatura, oxigênio e pH da água. Nesse sentido, sensores e dispositivos de monitoramento ajudam a garantir um ambiente ideal.
Sistemas de drenagem
Desenvolva sistemas de drenagem eficientes para controlar o nível da água nos viveiros, pois a drenagem adequada evita enchentes e mantém as condições ideais para os peixes.
Sistemas de abastecimento de água
Instale sistemas de abastecimento de água confiáveis para garantir uma oferta constante. Considere fontes sustentáveis, como a captação de água da chuva.
Cercamento e proteção
Cerque a área para evitar a entrada de predadores e a fuga dos peixes. Utilize materiais resistentes para proteger a infraestrutura contra danos.
Equipamentos de pesca e manejo
Adquira equipamentos de pesca adequados, como redes e tarrafas, para realizar atividades de manejo. Garanta a presença de ferramentas necessárias para manutenção e reparos.
Área de processamento e armazenamento
Se a intenção for comercializar os peixes, planeje uma área de processamento. Construa instalações adequadas para limpeza, embalagem e armazenamento dos produtos.
Sistemas de tratamento de efluentes
Implemente sistemas eficientes para o tratamento de efluentes gerados pela piscicultura. Além disso, assegure-se de que eles estejam em conformidade com as regulamentações ambientais.
Acessibilidade e logística
Planeje a infraestrutura para facilitar o acesso de veículos e a logística de transporte. Por exemplo: considere a proximidade de estradas e aeroportos para otimizar a distribuição.
Instalações administrativas
Construa instalações para gerenciar registros, documentos e outras atividades administrativas.
Energia elétrica e fontes alternativas
Garanta uma fonte confiável de energia elétrica para operar equipamentos essenciais. Nesse sentido, avalie a viabilidade de fontes alternativas, como energia solar, para reduzir os custos e impactos ambientais da operação.
Capacitação técnica e mão de obra
Invista em treinamento para a equipe envolvida nas operações. Assegure-se de que a mão de obra esteja capacitada para lidar com as demandas da piscicultura;
Segurança e emergências
Implemente medidas de segurança para prevenir acidentes e, adicionalmente, desenvolva planos de emergência para lidar com situações adversas, como doenças ou desastres naturais.
Escolha das espécies para iniciantes
A seleção das espécies é uma decisão estratégica que impactará diretamente o sucesso do empreendimento. Por isso, para iniciantes, recomenda-se optar por aquelas de crescimento rápido e resistência notável.
A tilápia, por exemplo, é reconhecida por sua adaptabilidade e rápido ganho de peso. Além disso, se a intenção for diversificar, peixes nativos — como pacu e tambaqui — também figuram como opções viáveis, geralmente demandando menor manutenção.
Antes de tomar uma decisão, aprofunde-se na pesquisa sobre as características de cada espécie, tais como dieta, temperatura ideal e condições de reprodução. Se você se interessa por carcinicultura, também é uma variedade que pode ser estudada para analisar o investimento.
De toda forma, é crucial considerar a demanda de mercado para garantir que a escolha esteja alinhada com as tendências e preferências dos consumidores.
Espécies recomendadas
A seguir, destacamos algumas espécies recomendadas para iniciantes, bem como as características de cada uma e as razões para serem escolhas sólidas. Confira:
- tilápia (Oreochromis spp): tem crescimento rápido, adaptabilidade a diferentes ambientes e resistência a condições variáveis de água. Assim, é uma escolha popular para iniciantes devido à sua robustez, fácil manejo e aceitação no mercado;
- pacu (Piaractus mesopotamicus): tolerante a diferentes condições de água, com rápido crescimento e boa aceitação alimentar, o pacu é uma espécie nativa da América do Sul conhecida por sua carne saborosa;
- tambaqui (Colossoma macropomum): tem adaptabilidade e resistência a diferentes condições ambientais. Além disso, é muito apreciado no mercado, sendo uma escolha sólida para iniciantes que buscam uma espécie de crescimento rápido;
- carpa (Cyprinus carpio): apresentando boa resistência, ampla adaptabilidade e possibilidade de policultivo, a carpa é uma espécie versátil;
- truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss): conta com excelente qualidade de carne e crescimento rápido em águas frias, sendo indicada para quem busca diversificar;
- pangasius (Pangasianodon hypophthalmus): o pangasius tem resistência a condições variáveis e é comumente criado em sistemas de água doce, sendo vantajoso por apresentar crescimento rápido.
Espécies não recomendadas
Por outro lado, algumas espécies são menos indicadas para iniciantes, como:
- esturjão (Acipenseridae): requer condições específicas, como águas frias e limpas, além de cuidados especiais com a alimentação. São sensíveis e demandam conhecimento técnico;
- camarão de água doce (Macrobrachium spp): o cultivo pode ser desafiador devido às demandas específicas de qualidade da água e controle rigoroso;
- truta marisca (salmo trutta marisca): é mais sensível às condições ambientais e requer águas frias e limpas, sendo menos adaptável a ambientes variáveis;
- peixes ornamentais exóticos para aquários: podem ter requisitos específicos difíceis de atender, bem como questões relacionadas ao comércio ético.
Cuidados especiais
O êxito na piscicultura vai além da construção e seleção de peixes. Cuidados especiais são essenciais para manter a saúde e o desenvolvimento adequado dos animais.
Alimentação balanceada
A alimentação é um elemento central na piscicultura, influenciando diretamente o desenvolvimento e a saúde dos peixes. Para garantir o sucesso no cultivo, é crucial compreender as necessidades nutricionais específicas de cada espécie.
A escolha de rações de alta qualidade, adaptadas aos diferentes estágios de vida dos peixes, desempenha um papel fundamental. Nesse sentido, as proporções adequadas de proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas e minerais contribuem para o crescimento saudável e o fortalecimento do sistema imunológico.
Monitorar a taxa de conversão alimentar, estabelecer horários regulares de alimentação e considerar estratégias de enriquecimento são práticas essenciais. Além disso, a atenção às condições ambientais e a sustentabilidade na escolha de alimentos contribuem para uma abordagem equilibrada e eficiente na alimentação em piscicultura.
Monitoramento da saúde
Estabeleça práticas regulares de monitoramento da saúde dos peixes, observando sinais de doenças e agindo prontamente em caso de qualquer anomalia. O acompanhamento de um veterinário especializado em aquicultura é crucial para orientação e intervenção adequada.
Manejo sustentável
Adote práticas de manejo sustentável desde o início, evitando a superexploração dos recursos hídricos e garantindo que as atividades sejam ecologicamente responsáveis. A preservação do ambiente não só é ética, como contribui para a imagem positiva do negócio.
Regularidade nos cuidados
Estabeleça uma rotina consistente para alimentação, limpeza e manutenção dos viveiros ou tanques. A consistência nas práticas diárias é fundamental para o sucesso a longo prazo e para a prevenção de problemas potenciais.
Atualização constante
Mantenha-se informado sobre as últimas pesquisas, tecnologias e práticas recomendadas na piscicultura. A atualização constante garantirá que você esteja à frente nas melhores práticas do setor, promovendo a eficiência e a competitividade do seu negócio.
Qual é o panorama da piscicultura no Brasil?
A piscicultura está em constante expansão. Com mais de 100 mil propriedades produtoras no país, essa atividade contribui para a segurança alimentar e é uma fonte significativa de renda para os produtores. Por isso, é uma oportunidade interessante também para produtores que desejam diversificar suas atividades.
Vale destacar que o Banco do Brasil, maior financiador do agronegócio brasileiro, disponibiliza diversas opções de crédito para investimentos na construção de açudes, como as linhas Inovagro, Moderagro, Pronaf Mais Alimentos e Pronampe.
Em suma, iniciar na piscicultura exige uma abordagem estratégica, paciência e uma mentalidade dedicada ao aprendizado contínuo. Desde a construção cuidadosa da infraestrutura até a seleção criteriosa das espécies e a implementação de cuidados especializados, cada passo é vital para o sucesso.
Lembre-se de que a paciência e a perseverança são aliadas cruciais nesse caminho, e cada desafio superado contribuirá para o crescimento sustentável do seu negócio.
Com dedicação e uma abordagem centrada no cuidado com os peixes e com o ambiente, sua jornada na piscicultura certamente será recompensadora e duradoura.
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