Mulheres no agro: cenários e desafios das lideranças femininas no agronegócio
A população feminina vem conquistando cada vez mais o seu espaço na sociedade. Ela representa uma parcela importante do mercado de trabalho e, no agro, também vem ganhando destaque em nosso país.
De acordo com os dados do último censo agro, elas são responsáveis pela administração de cerca de 30 milhões de hectares. Aliás, o grupo demonstra muita competência naquilo que faz, embora seja inegável que ainda é preciso enfrentar diversos desafios para o exercício do seu papel no campo.
Neste post, você vai conhecer mais a fundo o cenário das mulheres no agronegócio brasileiro e ficar por dentro das dificuldades que elas ainda têm que contornar, conferindo dicas para vencer esses entraves e até um caso de sucesso bastante inspirador. Continue lendo!
Qual é o papel da mulher no agro?
A presença das mulheres no agro vem crescendo cada vez mais. Só no Mato Grosso do Sul, importante polo do agronegócio nacional, por exemplo, esse aumento foi de 109% em dez anos.
De modo geral, elas atuam em diferentes atividades, realizando até mesmo trabalhos operacionais. Com isso, representam 16,2% da mão de obra empregada pelo setor.
No entanto, é válido ressaltar que elas também aparecem ocupando cargos de liderança. Segundo dados divulgados pelo Sebrae, conforme um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há cerca de um milhão de mulheres no comando de propriedades rurais no Brasil.
Embora o número pareça alto, em comparação com os cargos de liderança ocupados por homens, elas representam apenas 19% da administração no agro.
Resumidamente, as mulheres que hoje estão envolvidas com o agronegócio desempenham variados papéis. São profissionais especialistas em uma determinada área que compõem a equipe das propriedades, são empreendedoras que decidem abrir o próprio negócio e/ou que o herdam de familiares, dando continuidade à tradição etc.
Seja como for, elas exercem as suas funções com competência, mostrando que lugar de mulher também é no agro.
O que é ser uma mulher do agro?
Ser mulher no agro é superar desafios que vão além daqueles já enfrentados naturalmente no trabalho do campo. Afinal, como dito, elas encontram dificuldades para seguir uma carreira no setor — principalmente em relação aos aspectos culturais e salariais.
Aspectos culturais
No que diz respeito aos aspectos culturais, esse setor ainda é predominantemente masculino. Por isso, as mulheres nem sempre encontram espaço para ocupar determinados cargos, tanto aqueles mais operacionais quanto as posições de administração e de liderança.
A realidade é que o fator cultural classifica o trabalho no campo como algo pesado e “masculino”, logo, os homens têm preferência na hora de assumir as vagas. Aliás, isso acontece não apenas em grandes empreendimentos, mas também nas propriedades familiares.
A Pesquisa Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações, realizada pela Deloitte e publicada pela revista Exame, ouviu 400 mulheres que atuam no setor de agronegócio. Dessas, 41% afirmaram que já tiveram a sua capacidade de trabalho questionada. Além disso, elas não têm voz em algumas situações, pois 35% das entrevistadas, quando participam de associações de classe, não recebem crédito por aquilo que falam.
Ou seja, as mulheres que herdam os negócios da família, por exemplo, nem sempre são vistas com credibilidade por parte de fornecedores, de clientes e até mesmo de parceiros. Nesse caso, estamos diante de um entrave que pode acabar por levar à perda de espaço no mercado.
Discriminação salarial
A diferença salarial existe em diversos segmentos de mercado, o que inclui o agronegócio. Até o final do ano de 2022, essa discriminação de gênero foi representada por 22% de diferença de remuneração entre homens e mulheres.
Ou seja, as profissionais femininas recebem cerca de 78% do salário de um homem. Com isso, há um natural desestímulo para as mulheres seguirem carreira, já que elas terão que se esforçar e se preparar tanto quanto os homens e, ainda assim, receberão um salário menor.
Qual é a posição das mulheres no agronegócio?
Mesmo com toda a dificuldade a ser superada pelas mulheres no agro, elas persistem, pois conhecem o seu potencial e o seu nível de competência. Justamente por isso, fazem a diferença no setor. Um dos motivos envolve o fato de que elas costumam se preparar melhor do que os homens para trabalhar.
Duas pesquisas mostram essa distinção. Uma delas foi realizada pela Rede de Mulheres Agro Mulher. Segundo os dados publicados na revista Campo, 60% das profissionais envolvidas com o agronegócio têm formação superior.
A segunda é aquela feita pela Deloitte, já mencionada. O levantamento mostrou que 9% das trabalhadoras do agro entrevistadas cursaram o Ensino Superior, enquanto essa é a realidade de apenas 3% dos homens.
Sendo assim, as mulheres acabam levando conhecimentos atualizados para o campo. Portanto, elas contribuem para modernizar os processos e o sistema de trabalho, alinhando-os com aquilo que há de novo no mercado para a potencialização dos resultados.
As mulheres e a tecnologia no campo
Não podemos ignorar que, via de regra, a força física da mulher é biologicamente menor do que a do homem. No entanto, em função disso, elas buscam estratégias inteligentes para a execução das tarefas mais pesadas.
Logo, elas investem em recursos tecnológicos e em equipamentos que possam fazer o trabalho pesado no lugar dos seres humanos — independentemente de gênero. Com isso, alcançam muito mais produtividade.
A propósito, é interessante pontuar que a liderança feminina também abarca algumas habilidades fundamentais para promover o sucesso de empresas de todos os setores, como a versatilidade, a empatia, a confiabilidade e a sensibilidade. Essa última é o que garante uma atenção muito maior aos detalhes, favorecendo os aspectos relativos a controladoria, finanças e contabilidade, por exemplo.
Já a empatia beneficia os elementos que se referem aos relacionamentos. Por isso, as mulheres conseguem, naturalmente, exercer uma liderança eficiente e de alta qualidade. Além disso, o grupo demonstra mais facilidade para fazer parcerias e lidar com situações delicadas junto a fornecedores e clientes, encontrando soluções diplomáticas em prol dos negócios.
Como superar os desafios de ser mulher no agronegócio?
As mulheres podem chegar aonde quiserem e conquistar o topo, mesmo com todos os desafios enfrentados no agro. Mas, como eles ainda existem, é preciso haver persistência e dedicação para alcançar espaço e destaque.
Então, a seguir, listamos algumas dicas que podem ser muito úteis para você trilhar a sua carreira da maneira como deseja. Confira!
Capacitação
Em qualquer ramo de atuação, buscar conhecimento é fundamental para encontrar mais espaço no mercado de trabalho. Isso não é diferente quando se trata do agronegócio. As mulheres no agro podem ter ainda mais oportunidades investindo em capacitação.
Embora, como visto, os homens ainda tenham preferência em função do aspecto cultural, essa mentalidade vem mudando gradativamente. As propriedades e empresas que têm uma visão inovadora sabem que a qualificação profissional é mais importante do que o gênero.
Portanto, o ideal é investir na sua formação, definindo um plano de carreira e estabelecendo muito bem os seus objetivos profissionais. Assim, você poderá buscar graduações e especializações que coloquem o seu currículo à frente. Por sua competência, você vai conquistar o seu espaço.
Desenvolvimento pessoal
É muito importante entender que a capacitação confere conhecimentos técnicos para uma pessoa. Contudo, nem todos os desafios estão relacionados às competências profissionais. Muitas vezes, as dificuldades requerem um bom desenvolvimento pessoal para serem vencidas.
Sendo assim, as mulheres precisam investir também em suas próprias habilidades. É fundamental buscar o autoconhecimento para reconhecer pontos fortes e fraquezas, com o objetivo de otimizar as características e o perfil profissional para o setor de agronegócio.
Alguns aspectos, como a liderança, a versatilidade, o pensamento inovador, a capacidade de resolução de problemas e a boa comunicação, são essenciais para lidar com os entraves que surgem no dia a dia.
Além disso, a busca do desenvolvimento pessoal contribui para fortalecer a autoestima, trazendo mais autoconfiança e segurança. Esses elementos são indispensáveis para vencer as situações de discriminação e de preconceito que são encontradas no caminho, afirmando a sua competência e o seu profissionalismo.
Planejamento
Para ter sucesso no agronegócio, também é importante fazer um planejamento adequado. A elaboração começa com a definição daquilo que você pretende fazer no setor. Quais são as suas áreas de interesse? Qual é o cargo ou a função que você deseja exercer?
É imperativo planejar a carreira para estabelecer onde buscar oportunidades, se é melhor trabalhar para terceiros ou apostar no empreendedorismo, de que maneira você vai escalar o seu crescimento no segmento, quais são as metas e os objetivos que se pretende alcançar e, claro, quais são os caminhos para chegar lá. Inclusive, a medida também ajuda a prever possíveis dificuldades e desafios. Com isso, é viável desenhar planos de ação para a superação.
Mulheres no agro: uma história de sucesso
Existem muitas histórias de mulheres no agro que são inspiradoras para outras profissionais que desejam seguir carreira nesse setor. Mas queremos apresentar para você a trajetória da Ângela Van Lieshout. Junto ao esposo, ela tem uma fazenda produtora de soja, milho e gado de corte localizada em Silvânia (GO).
Foi durante a adolescência, acompanhando a rotina do esposo, que Ângela conheceu o agro. Apesar da formação em Engenharia Mecânica, ela decidiu acompanhar o marido e se mudar para a fazenda que o sogro havia adquirido.
Durante 25 anos, a fazenda ficou sob a responsabilidade do esposo de Ângela e do sócio dele. No entanto, em 2020, a sociedade foi encerrada, e Ângela passou a ser responsável pelo setor financeiro da propriedade.
Em função dessa nova tarefa, ela buscou conhecimentos para se capacitar ainda mais. Fez mentorias, academia de liderança, pós-graduação e foi à procura de informações em leituras e diversos encontros do setor de agro.
Assim, com uma virada completa em sua vida e na carreira, Ângela assumiu o desafio de gerenciar o setor financeiro de uma grande fazenda. Ela adquiriu as habilidades e os conhecimentos necessários para isso e, com atenção aos detalhes e com dedicação, ajudou a equilibrar os negócios e a estruturar projetos futuros, buscando sempre o aprimoramento da gestão.
A sua carreira também cresceu no agro. Hoje, Ângela é presidente da Comissão das Produtoras Rurais da Faeg — espaço dedicado à discussão sobre o impacto feminino nos negócios rurais.
É verdade que o aumento da presença de mulheres no agro depende muito dessas profissionais. Entretanto, é relevante contar com o apoio de instituições e empresas para fortalecer esse movimento. Essa é uma das missões do Broto, um grande aliado da equidade de gênero no agro.
Gostou do conteúdo? Aproveite para se aprofundar um pouco mais no assunto conferindo como anda o mercado agrícola brasileiro, as suas perspectivas e as oportunidades.