Greening: entenda quais os cuidados necessários
Há muitos anos, uma doença vem afetando os pomares cítricos da Ásia e da África, inviabilizando a produção, assim como cada árvore atingida. Em pouco tempo, o greening chegou às Américas e desde 2004 foi identificado nas regiões produtoras de São Paulo.
Na verdade, essa doença é considerada o problema mais sério da citricultura em todo o mundo, colocando em risco a própria sobrevivência do agronegócio citrícola. Todas as áreas produtoras de citros são afetadas e estão sob risco permanente.
Continue a leitura, descubra mais sobre o greening e entenda quais cuidados são necessários.
O que é greening?
Citrus greening, ou simplesmente greening, como passou a ser chamada a doença, é também conhecido pelo seu nome chinês: huanglongbing (“doença do dragão amarelo”). Essa é considerada a pior doença da atualidade para os citros, sendo uma preocupação constante para as regiões produtoras em todo o mundo.
Todas as variedades cítricas cultivadas são atingidas pelo greening, além de plantas ornamentais, especialmente a murta-de-cheiro (Murraya paniculata), uma arvoreta de flores brancas muito utilizada em paisagismo e em cercas vivas. A murta é uma rutácea (da família botânica Rutaceae), como os citros cultivados.
A grande preocupação dominante resulta do fato de ser uma doença para a qual não existe qualquer tratamento nem previsão de cura. Por essa razão, as instituições científicas, as organizações representantes dos produtores e todo o segmento citrícola se esforçam para encontrar soluções baseadas em medidas preventivas e mitigadoras do mal.
A ocorrência do greening provoca séria redução na produtividade e, consequentemente, elevação dos custos. Nos oito primeiros anos desde seu aparecimento no Brasil (de 2004 a 2011), mais de 18 milhões de plantas precisaram ser eliminadas dos pomares do estado de São Paulo.
Quais os sintomas mais comuns?
Em algumas doenças de plantas, os sintomas são sazonais, mas no caso do greening, eles podem ser vistos em qualquer época do ano, havendo maior incidência no início da primavera e no final do verão. Ramos, folhas e frutos são afetados diretamente pelos efeitos da doença.
Quando plantas jovens são atingidas, não há produção, e a árvore fica comprometida em menos de dois anos. No caso de plantas maduras, elas podem levar cerca de três a cinco anos para serem tomadas pelo quadro da doença. Acompanhe os principais sintomas nas diferentes partes da planta.
Ramos
Inicialmente, um ou outro ramo se mostra mais amarelado quando jovem, enquanto os mais maduros tornam-se mosqueados. São percebidos facilmente em razão do contraste existente com a cor verde da planta.
Folhas
As folhas dos ramos mosqueados se apresentam com manchas irregulares no limbo, que se alternam entre o verde e o amarelo, sem qualquer simetria. Essas folhas tendem a cair, dando lugar a folhas jovens conhecidas como “orelha de coelho”, assim chamadas por crescerem irregularmente eretas.
Frutos
Os frutos atingidos não prosseguem com o amadurecimento normal. Quase sempre se mostram pequenos e deformados, além de adquirirem uma coloração verde clara manchada. É comum que caiam precocemente, deixando no local do pedúnculo uma coloração alaranjada.
No interior do fruto, podem ser observadas sementes abortadas já necrosadas, assim como o albedo (a parte branca interna da casca do fruto), apresentando uma espessura maior que o normal. O suco resultante desses frutos é mais ácido, menos doce e mais amargo.
Quais as suas principais causas?
O greening é uma bacteriose (doença provocada por bactéria) cujo patógeno é o Candidatus Liberibacter asiaticus, responsável por mais de 99% dos casos de plantas doentes no Brasil. Essa é a subespécie que infesta os pomares dos países asiáticos e que chegou aqui.
Duas outras bactérias da mesma espécie, Candidatus Liberibacter africanus e Candidatus Liberibacter americanus, estão presentes em menos de 1% das plantas infectadas em território brasileiro. Dessa forma, encontra-se consolidado o conhecimento do agente etiológico (causador da doença), até então duvidoso ou incerto.
A bactéria causadora da doença é transmitida por um inseto que contamina a planta ao picar ramos jovens para sugar a seiva doce vegetal. É semelhante, por exemplo, à transmissão da dengue entre humanos pela picada do mosquito vetor Aedes aegypti.
O vetor da doença
No caso do greening, o inseto vetor é a diminuta (2 a 3 mm de comprimento) Diaphorina citri, do grupo dos psilídeos, insetos que são popularmente conhecidos como “cigarrinhas”. Cigarrinhas são insetos que, de modo geral, todo produtor conhece, principalmente porque saltam quando são tocadas, além de voar.
O Diaphorina citri coloca seus ovos amarelados, muito pequenos, nos ramos bem jovens dos citros, os brotos, preferidos pelos adultos por serem mais fáceis de perfurar para obter a alimentação de que necessitam. Dos ovos nascem as ninfas, com pernas curtas e corpo achatado, de coloração alaranjada, e que evoluem em quatro estágios.
As ninfas caminham lentamente e podem se estabelecer na face dorsal (parte voltada para baixo) das folhas, onde ficam sugando a seiva e eliminando fezes esbranquiçadas e muito doces. Hábitos similares ocorrem com algumas espécies de cochonilhas dos citros.
O ataque da cigarrinha adulta e suas ninfas não provoca prejuízos significativos para a cultura cítrica. O grande dano reside nos adultos que se contaminaram com a bactéria ao picar alguma planta doente e a transmitem para uma planta sadia logo em seguida
Qual o ciclo da doença?
O ciclo da doença envolvendo plantas infectadas com a bactéria, cigarrinhas se alimentando e plantas sadias sendo atingidas, pode ser assim resumido:
- a bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus vive nos vasos do floema (vasos de seiva vegetal, semelhantes às veias de sangue animal), se espalhando por toda a planta;
- a cigarrinha Diaphorina citri, ao se alimentar picando e sugando a seiva de uma planta contaminada, adquire bactérias que permanecem vivas em seu organismo;
- ao picar outra planta sadia, transmite para ela as bactérias da doença com a qual havia se infectado antes;
- as ninfas originárias dos ovos, à medida que se alimentam, vão se infectando com a bactéria;
- ao se tornarem adultas, as novas cigarrinhas infectadas farão a dispersão da doença ao pousarem em novas plantas para a alimentação habitual.
Além do ciclo envolvendo o agente etiológico (bactéria), o vetor (cigarrinha) e o hospedeiro (planta), existe outra possibilidade de infecção. Trata-se da contaminação por enxertia, mais comumente por meio de borbulhas extraídas de plantas infectadas que contaminarão o pomar após o enxerto.
Em todos os casos, os sintomas aparecem cerca de quatro meses após a contaminação. Plantas já infectadas, mas que ainda não apresentam sintomas, podem transmitir a doença se forem picadas pelo inseto vetor.
Que cuidados devem ser tomados?
Como você já viu, não existe tratamento para a doença. Assim, os cuidados são mais preventivos, incluindo o controle do inseto vetor, a cigarrinha. As principais medidas a serem tomadas podem ser assim relacionadas.
Escolha do local de instalação de um novo pomar
As infestações são maiores em áreas menores. Assim, além de evitar regiões de incidência da doença, deve-se fazer a opção por áreas grandes para a instalação de pomares novos.
Utilização de mudas sadias e de qualidade confirmada
É indispensável que se faça uso exclusivamente de mudas certificadas. Além disso, dê preferência a mudas com pernadas já formadas.
Estímulo ao rápido desenvolvimento das plantas
A ideia é garantir plantas sadias e que consolidem o seu desenvolvimento o mais rapidamente possível. Para isso, faça uso de mudas já formadas, plantios adensados e cobertura com mulching plástico, além de irrigação e nutrição mais adequadas.
Manejo intenso da faixa de borda
A faixa de borda é a região de maior concentração do inseto vetor. Para a intensificação do manejo, adense o plantio nessa área, implante um rigoroso controle do inseto vetor e replante com a frequência necessária os locais de eliminação de plantas doentes.
Inspeção de plantas
A partir do segundo ano de formação, devem ser realizadas pelo menos seis inspeções em todas as plantas ao longo do ano. Deve ser empregado pessoal devidamente treinado no reconhecimento dos sintomas iniciais da doença.
Erradicação das plantas doentes
Todas as plantas infectadas com greening devem ser eliminadas, independentemente da idade, por meio de corte o mais rente ao solo possível. É recomendável realizar a aplicação de inseticida antes da supressão das plantas.
Monitoramento e controle do inseto vetor
O monitoramento consiste na inspeção periódica a fim de verificar a presença do inseto vetor. Existem diversas formas de fazer isso, sendo mais recomendável a utilização de cartões adesivos colocados no terço superior da copa, com avaliação semanal.
Por sua vez, o controle deve ser feito com a pulverização planejada de inseticida sistêmico e de contato, em função do período de aplicação e da idade das plantas. Para esse fim, deve ser consultado um profissional habilitado para indicação do produto, dosagem, frequência e formas de aplicação.
Como você pode ver, o greening é uma doença de elevado risco para os pomares cítricos e que deve ser abordada com profissionalismo e precisão nas medidas para um efetivo controle.
Agora que você conhece mais sobre o greening, compartilhe este texto com seus amigos nas redes sociais: é importante para eles e para o agronegócio brasileiro.
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