Cultura do girassol: conheça as características do cultivo e suas vantagens
A cultura do girassol (Helianthus annuus L.) sempre trouxe fascínio pela sua beleza e versatilidade. Afinal, ela é uma oleaginosa de grande potencial na alimentação animal, aproveitada na adubação verde para maior enriquecimento do solo nos teores de nitrogênio e diminuição de incidência de plantas daninhas.
Além disso, devido à sua incrível resistência a diversas condições climáticas, latitude e longitude, ela se destaca como uma alternativa na produção de óleo, que pode ser até mais barato do que o de soja. Inclusive, muitos produtores estão utilizando o girassol como opção na rotação de cultura após o plantio desse grão.
Então, o que acha de aprender mais sobre essa cultura crucial para o agronegócio brasileiro? Este guia traz detalhes como a morfologia, a época de girassol no Brasil e os principais tratos culturais para melhor implementação no campo. Boa leitura!
Quais as características gerais da cultura do girassol?
Para bons tratos culturais do girassol, é fundamental conhecer pontos como morfologia, desenvolvimento fisiológico, condições ideais de cultivo, época, tipo de solo e demais detalhes. Portanto, confira a seguir.
Morfologia do girassol
A planta de girassol é anual e herbácea. Dependendo das condições regionais e climáticas, bem como da cultivar e da data de semeadura, sua duração varia entre 65 e 155 dias.
O sistema radicular é pivotante e cresce mais rapidamente na fase inicial de desenvolvimento. É composto de um eixo principal e raízes secundárias abundantes, com a capacidade de extrair recursos hídricos e nutrientes de grande volume de solo.
Essa cultura é uma planta singular, com um caule herbáceo erguido e cheio de pelos ásperos. Sua robusta estrutura cilíndrica mantém-se verde até o fim da florada, quando passa a exibir tons amarelados e acinzentados. Por fim, quando está pronta para ser colhida, sua casca se torna oca.
Além disso, desenvolve uma inflorescência formada por flores sésseis agrupadas, envolvidas por brácteas e situadas no topo do caule, chamado capítulo. Seu receptáculo pode ser liso, côncavo ou convexo, com um diâmetro que varia de 6 cm a 40 cm e contém entre 100 e 8 mil minúsculas flores hermafroditas.
A forma do capítulo também varia, dependendo especialmente da cultivar. Quanto às cores, encontramos amarelo, marrom, vermelho, laranja e até mesmo branco.
Fisiologia e fenologia
A relevância de utilizar uma escala fenológica, identificando as várias etapas do desenvolvimento, é o que permite adaptar melhor o momento das atividades agrícolas da cultura do girassol. Essa escala separa o crescimento em duas partes: vegetativa (V) e reprodutiva (R).
A fase vegetativa começa com a emergência da plântula e é dividida em várias fases. Por sua vez, o ciclo reprodutivo compreende nove estádios, começando com a aparição do botão floral até a maturação completa. A primeira parte da escala é a seguinte:
- VE (emergência): é quando o hipocótilo emerge no solo com os cotilédones, aparecendo o primeiro par de folhas verdadeiras, com 4 cm de comprimento médio;
- Vn (desenvolvimento das folhas): estende-se após o aparecimento das folhas verdadeiras e é definido por par de folhas que surgem simultaneamente (V1, V2, V3, V4… Vn).
Após, vem a fase reprodutiva, a qual inicia com o aparecimento do botão floral e evolui para a maturação fisiológica da cultura vegetal. Saiba mais sobre cada estádio:
- R1: se dá quando a inflorescência está circundada pela bráctea imatura. Ela começa a ficar visível e com muitas pontas;
- R2: é a fase em que o internódio abaixo do botão floral se alonga entre 0,5 m e 2,0 cm acima da última folha inserida no caule;
- R3: o internódio continua a se alongar e agora apresenta uma distância maior que 2,0 cm;
- R4: começa a se notar a abertura da inflorescência. Assim, as flores liguladas já estão mais visíveis e no tom amarelado. É um dos períodos mais críticos devido à sensibilidade a variações climáticas, visto que excesso de chuvas e altas temperaturas podem influenciar a formação das sementes;
- R5: caracteriza-se pelo início da antese (abertura das flores);
- R6: refere-se à abertura de todas as flores tubulares e as liguladas, durando entre 10 e 15 dias;
- R7: início da formação dos aquênios (sementes), com o dorso do capítulo tornando-se amarelo-claro;
- R8: desenvolvimento dos aquênios. O dorso do capítulo fica amarelo, mas as brácteas continuam verdes;
- R9: maturação dos aquênios, apresentando umidade entre 30% e 32%, com coloração. As brácteas apresentam coloração amarela e castanha, e o dorso do capítulo passa a ser castanho.
Condições ideais para cultivo
A germinação e a emergência das plantas de girassol aceleram com o aumento da temperatura até 30 °C. No entanto, qualquer variação acima de 35 °C é prejudicial para as sementes, e estas não conseguem germinar.
O melhor cenário para o desenvolvimento da cultura do girassol é quando esse fator varia entre 20 °C e 25 °C. Além disso, temperaturas baixas podem comprometer a produtividade ao prolongar o ciclo da cultura e afetar a floração e a maturação. Lembrando que a partir de 4 °C ou 5 °C, ela não apresenta atividade fisiológica.
Também é importante salientar que ela é considerada muito sensível à geada, particularmente durante o momento da emergência e da floração.
Tipo de solo ideal
A cultura do girassol é conhecida por sua rusticidade e capacidade de se adaptar a uma variedade de solos. Porém, para obter um melhor desenvolvimento, a preferência deve ser pelos enriquecidos, profundos, férteis, planos, bem drenados e livres de impedimentos físicos para que as raízes cresçam de maneira adequada.
Essas qualidades da área de cultivo permitem que o sistema radicular se expanda e o ajudam a explorar um grande volume de solo. Desse modo, há resistência à seca e ao tombamento, maior absorção de água e nutrientes, além de aumento da produtividade.
Época de plantio
No Brasil, nas regiões Sul e Sudeste, a semeadura é realizada entre setembro e março, quando há maior umidade do ar. Na região Centro-oeste, ocorre entre janeiro e fevereiro. Já no Norte e no Nordeste, a época é mais flexível.
Principais cultivares
Existem vários cultivares de girassol disponíveis para cultivo no Brasil. Conheça as principais:
- BRS Girassol — desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é uma cultivar com alta produtividade e resistência a doenças, e as de mais destaque são BRS 321, BRS 322 e BRS 323, desenvolvidas para atender ao clima brasileiro;
- Aguará 4 — também desenvolvida pela Embrapa, é uma cultivar com alta tolerância ao calor e à seca, principalmente para região semiárida;
- M 734 — cultivar da Monsanto, tem alta produtividade e é focada em proporcionar boa produtividade de óleo;
- Hélio 358 — também apresenta alta produtividade e resistência a doenças, como podridão branca e ferrugem do colmo;
É importante lembrar que a escolha do cultivar ideal para cada região depende de diversos fatores, como clima, tipo de solo e objetivos do produtor. Por isso, é recomendável consultar um engenheiro agrônomo para orientação específica.
Quais os tipos de manejo da cultura do girassol?
Conhecer os tratos culturais para a cultura do girassol é imprescindível para o seu sucesso. Vamos conferir quais são?
Manejo das plantas daninhas
Durante a fase inicial da cultura do girassol, existem alguns momentos em que as plantas daninhas devem ser controladas e evitam a matocompetição. Dessa forma, o período mais crítico se dá entre 21 e 30 dias, e o período total para ter atenção será de até 40 dias.
Para otimizar o controle das plantas daninhas, o manejo integrado se mostra a melhor estratégia. Isso porque, com uma associação de métodos preventivos, culturais, mecânicos e químicos, ocorre uma grande melhoria no processo, além de economia.
Manejo das principais pragas
Muitas pragas que afetam a cultura do girassol já são conhecidas em outras plantações. O controle delas vai variar conforme a fase de desenvolvimento da cultura, sendo mais problemático durante a floração, devido à dificuldade em ter acesso às máquinas.
Além disso, é importante evitar o uso de defensivos químicos, pois estes podem afetar os polinizadores — principalmente as abelhas — e prejudicar a formação das sementes.
No início, os danos mais frequentes são provocados pelo percevejo-castanho, pela lagarta-rosca e por algumas larvas de besouro, como da vaquinha e do besouro-do-capítulo. Durante as fases de maturação dos aquênios (R7-R8), as pragas mais notáveis são os percevejos e o besouro-do-capítulo.
O controle se dá por estratégias de manejo integrado, como controle biológico com Bacillus thuringiensis para lagartas desfolhadoras, tratamento de sementes com defensivos sistêmicos, além do cuidado na eliminação de plantas daninhas. Afinal, estas servem como hospedeiras das pragas.
Para besouros e percevejos, avalia-se a questão do tratamento químico. Também pode ser via sistêmica, observando o espaçamento do girassol, com cuidado na aplicação na época do florescimento a fim de evitar que as abelhas sejam atingidas.
Manejo das principais doenças
Compreendem doenças fúngicas, bacterianas e viróticas. Conheça as principais:
- doenças fúngicas — mancha de alternaria (Alternaria helianthi), podridão branca (Sclerotinia sclerotiorum), míldio (Plasmopora halstedii) e ferrugem (Puccinia helianthi);
- doenças bacterianas — podemos destacar a mancha bacteriana e o crestamento bacteriano, causados pelas bactérias do gênero Pseudomonas, e a podridão de medula de haste, pelo Pectobacterium carotovorum;
- doenças viróticas — o mosaico é o vírus de maior importância econômica na cultura do girassol, tornando a planta infectada improdutiva.
Para controle dessas questões, as estratégias mais eficientes são de caráter preventivo, visto que são muito agressivas e de alta disseminação. As principais formas são adoção de resistência genética, rotação de culturas, adubações equilibradas e utilização de sementes sadias e certificadas.
Inclusive, em caso de viroses, você deve buscar alternativas de controle do seu principal vetor, o pulgão. Isso porque, quando a planta já está infectada, recomenda-se arrancá-la imediatamente para que ela não seja foco de transmissão na área.
Nematoides
O principal nematoide-das-galhas é o Meloidogyne javanica. Sua presença na planta pode ocasionar o empobrecimento das raízes em água e nutrientes, o que afeta seu crescimento.
Dessa maneira, para evitar infestação, é indicado tomar cuidado na limpeza das máquinas e nos implementos agrícolas antes de iniciar as atividades. Além disso, a rotação de culturas e o cultivo de plantas com substâncias alelopáticas podem reduzir a quantidade de nematoides na área.
Como implantar a cultura do girassol na propriedade?
Como você pôde perceber, a cultura do girassol é bastante versátil e adaptável a diversas condições climáticas. No entanto, para que a colheita seja um sucesso, é importante seguir algumas etapas. Confira!
Selecione-a de acordo com a finalidade
Prestar atenção a todos os detalhes é imprescindível para a plantação de girassol dar lucro. Por exemplo, caso selecione como rotação de culturas, saiba que ela produzirá melhor após um cultivo de leguminosa, como a soja. Portanto, se você optar por uma rotação com gramínea, como o milho, ela terá rendimento menor.
Avalie a cultivar conforme a região
Embora o girassol seja resistente, há variedades que se sairão melhor que outras. Porém, observe todo o contexto, como doenças e aproveitamento. Por exemplo, se você busca maior produção de óleo, selecione a M 734. Agora, se houver na área um grande índice de doenças como a podridão branca do capítulo, vale a pena escolher a Hélio 358.
Faça a análise do solo
É fato que ela é conhecida pela sua rusticidade. Mas, para o bom sucesso dessa cultura, é fundamental fazer o preparo do solo e verificar se atende às exigências mínimas com relação ao nível de adubação.
Além disso, uma análise precisa é capaz de detectar se o solo é bastante ácido e se há presença de alumínio (Al). Isso porque o girassol é moderadamente sensível a esses fatores, os quais prejudicam o desenvolvimento das raízes. Portanto, observe esse ponto também conforme os indicadores.
Planeje até a etapa da comercialização
Essa etapa consiste em definir quais as melhores máquinas agrícolas a serem implementadas, as colheitadeiras, o aprimoramento de técnicas como biotecnologia na agricultura, as metodologias de otimização no manejo e a comercialização agropecuária.
Quais as principais vantagens do cultivo do girassol?
Não é à toa que a cultura do girassol vem ganhando cada vez mais notoriedade. Afinal, além de rústica, traz benefícios como a capacidade de promover reciclagem de nutrientes com adubação verde, substâncias alelopáticas para algumas espécies de daninhas, baixo investimento e fácil manejo. Sem contar que permite o uso do campo em diferentes épocas na ausência da cultura principal.
Esse foi o nosso guia sobre a cultura do girassol, pensado para ajudar você a implementá-la com sucesso. Quer se aprofundar nas estratégias mencionadas, identificar os principais fatores de perdas, reduzir riscos e aumentar a produtividade? Então, conheça agora mesmo o curso Cultura do Girassol oferecido pelo Broto!
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