Agronegócio e agricultura familiar: diferenças, semelhanças e desafios
Você sabe a diferença entre agronegócio e agricultura familiar? Embora ambos sejam cruciais para o nosso país, há diferenças entre eles. Neste artigo, explicamos as principais características de cada setor e listamos alguns desafios que eles têm enfrentado. Boa leitura!
O que é agronegócio?
O agronegócio é o conjunto de atividades econômicas que têm a ver com a produção e o comércio de produtos agrícolas. O conceito é bastante amplo e não diz respeito apenas às grandes propriedades rurais — isso porque a sua cadeia de produção também envolve diversos produtos e movimenta empresas de diferentes segmentos.
Entre os produtos que se relacionam com o agronegócio, podemos mencionar os fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes e diversos outros que são chamados de insumos agropecuários utilizados na produção.
Já as empresas, englobam desde fornecedores e fabricantes de equipamentos agrícolas até produtores de rações bovinas, desenvolvedores de sementes e processadores da produção primária, como frigoríficos, por exemplo, além de companhias exportadoras.
Assim, podemos entender a razão pela qual o termo está sempre presente no noticiário e nas conversas do dia a dia. Afinal, o agronegócio movimenta um amplo número de trabalhadores e de empresas, além dos resultados positivos que essas atividades proporcionam ao país.
Tudo isso é possível porque há uma cadeia produtiva bem organizada, que engloba toda a jornada que um produto percorre — desde a decisão do produtor sobre o que irá cultivar até a cadeia logística que faz esse produto, in natura ou processado, chegar ao cliente final.
O que é agricultura familiar?
Tal como o agronegócio, a agricultura familiar no Brasil é de extrema importância, uma vez que esse modelo de produção é o principal responsável pelos alimentos que chegam às nossas mesas todos os dias. Contudo, ela tem algumas características próprias.
Diferentemente do que ocorre com a monocultura (produção de apenas um tipo de produto agrícola), por exemplo, o manejo empregado na agricultura familiar produz uma grande variedade de alimentos e emprega diferentes formas de exploração do solo e interação com o ecossistema agropecuário.
A agricultura familiar é desenvolvida por produtores rurais que cultivam em áreas menores de terra, seja para subsistência ou atendimento ao mercado interno. Além disso, diz respeito a toda a forma de cultivo administrada por uma família, empregando como mão de obra os membros desse núcleo.
Os alimentos produzidos nesse modelo também são a principal fonte de renda para a família. O impacto econômico é significativo: a atividade envolve cerca de 4,4 milhões de famílias e gera lucros e subsistência para 70% dos brasileiros no campo, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A agricultura familiar não faz sucesso apenas no Brasil. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que cerca de 80% dos alimentos de todo o planeta advêm desse tipo de produção. O interessante é que cada país regula o setor de modo diferente, embora haja um consenso: ele é vital para alimentar a população mundial.
Em nosso país, a agricultura familiar conta com uma legislação específica. É considerado agricultor familiar aquele produtor que desempenha atividades no meio rural, em terras de área inferior a quatro módulos fiscais — unidade de medida definida em hectares, com área estipulada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Isso varia de acordo com cada município.
O modelo familiar envolve não só os pequenos produtores rurais, mas também a população indígena, as comunidades quilombolas e os silvicultores, por exemplo. Até mesmo alguns pescadores e extrativistas são considerados parte do conceito de agricultura familiar.
Quais são os principais desafios do agronegócio?
Em diferentes proporções, as propriedades de grande porte e as empresas do agronegócio têm desafios semelhantes aos dos empreendimentos com gestão familiar.
Um obstáculo que, geralmente, não é tão sentido no agronegócio é a adoção de novas tecnologias e processos, já que negócios de grande porte costumam ter fácil acesso às novidades logo que chegam ao mercado, bem como recursos para aplicá-las rapidamente.
Entendido esse contexto, vamos aos desafios e dicas para ajudar a solucioná-los? Continue a leitura.
Mudanças climáticas
Grandes propriedades enfrentam desafios devido a alterações na temperatura e precipitação, que afetam a produtividade. Adaptar-se a essas mudanças por meio de técnicas de manejo agrícola e desenvolvimento de variedades de culturas resistentes é essencial para manter a produção.
Além disso, precisam se adaptar rapidamente às novas pragas e doenças que surgem devido às mudanças climáticas é necessária. Investir em pesquisa e desenvolvimento de práticas de manejo integrado e controle biológico pode ajudar a enfrentar esses desafios.
Investir na melhoria da eficiência no uso de água e na gestão de carbono no solo são ações indispensáveis, assim como empregar tecnologias avançadas para previsão climática e modelagem. Isso ajuda a planejar e ajustar práticas agrícolas, minimizando os impactos adversos das mudanças climáticas.
Sustentabilidade ambiental
Muito em linha com o tópico anterior, entramos na seara da preservação de recursos ambientais. Grandes propriedades precisam, por exemplo, implementar sistemas de irrigação avançados, como gotejamento ou aspersão controlada, e adotar técnicas de conservação de água, como a coleta de água da chuva.
Adicionalmente, reduzir a contaminação de fontes de água com fertilizantes e pesticidas é essencial. A utilização de práticas de manejo integrado de nutrientes e técnicas de controle biológico pode ajudar a proteger os recursos hídricos.
Além disso, quando o assunto é conservação do solo, alguns caminhos a serem avaliados são práticas como a rotação de culturas, o plantio direto e a cobertura do solo com vegetação para prevenir a erosão e a degradação do solo, o que é crucial para mantê-lo saudável no longo prazo.
Destacamos também que a utilização de compostos orgânicos e a adubação verde ajudam a manter a fertilidade do solo, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos e promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis.
Por fim, não tem como falar em sustentabilidade sem abordar a preservação da biodiversidade. Para exemplificar, trazemos duas práticas:
- Integrar áreas de vegetação nativa e criar corredores ecológicos em grandes propriedades para proteger a biodiversidade e evitar a fragmentação dos habitats naturais;
- Gerenciar a introdução de espécies invasoras e proteger as espécies nativas é essencial para manter o equilíbrio ecológico e a produtividade sustentável.
Para encerrar este tópico, recomendamos às empresas do agronegócio que participem de programas de certificação ambiental e iniciativas que promovem práticas sustentáveis. Isso pode proporcionar vantagens competitivas e benefícios econômicos, além de reputação positiva ao negócio.
Gestão financeira e de riscos
Grandes operações devem lidar com a volatilidade dos preços das commodities, fator que afeta diretamente a rentabilidade dos negócios. Nesse sentido, estratégias como contratos futuros e opções são usadas para mitigar riscos financeiros e estabilizar receitas.
Outro desafio é se adaptar às mudanças nas políticas governamentais e regulamentações. Isso pode exigir uma gestão financeira ágil e flexível. A análise e o acompanhamento contínuos das políticas são essenciais para adaptar estratégias operacionais e financeiras.
No que tange ao gerenciamento de riscos, é fundamenta contar com as proteções dos diversos tipos de seguros rurais para minimizar perdas e garantir a continuidade e estabilidade financeira do negócio diante de adversidades, como catástrofes climáticas, danos ao maquinário etc.
Nesse sentido, é fundamental também implementar um planejamento orçamentário detalhado e manter uma reserva de caixa para enfrentar períodos de baixa receita.
Mão de obra e capacitação
Esse desafio certamente é consenso entre os administradores do agronegócio: encontrar trabalhadores qualificados para operar tecnologias avançadas e gerenciar operações complexas. Investir em programas de formação técnica e parcerias com instituições educacionais pode ajudar a suprir essa demanda.
Outro caminho, complementar ao primeiro, é oferecer treinamento contínuo, atualizações sobre novas tecnologias e práticas de gestão, bem como oportunidades de carreira aos funcionários. Assim, a empresa mantém a equipe preparada, eficiente e motivada.
Como a mão de obra qualificada é escassa, manter os talentos é outro desafio importante. Assim, melhorar as condições de trabalho, oferecer salários competitivos e benefícios, além de criar um ambiente de trabalho positivo, fazem toda a diferença.
Esses desafios exigem uma abordagem integrada e estratégica, combinando inovação tecnológica, gestão financeira eficaz, capacitação contínua e práticas ambientais sustentáveis para garantir a sustentabilidade e a competitividade do agronegócio.
Quais são os principais desafios da agricultura familiar?
Propriedades rurais familiares enfrentam desafios, que vão desde a profissionalização à adoção de tecnologias que resultem em crescimento sustentável. São desafios essenciais para que possam se manter competitivas no mercado. Em seguida, elencamos alguns deles.
Sucessão familiar
O desafio da sucessão na gestão de negócios rurais familiares é um processo complexo e vital para a continuidade da empresa. Envolve preparar a próxima geração para assumir o controle do negócio, o que vai além de simplesmente transferir a propriedade. É necessário identificar e formar líderes com habilidades de gestão e visão estratégica, que possam enfrentar a modernização e os desafios do setor agrícola.
A transição bem-sucedida exige planejamento e comunicação claros, além de um alinhamento entre os valores e expectativas da geração atual e a nova liderança. Conflitos entre gerações podem surgir devido a diferenças em valores, estratégias de gestão e resistência à mudança. Também é comum encontrar resistência de futuros sucessores, que podem não ter interesse ou preparo suficiente para liderar o negócio.
Além disso, a sucessão precisa integrar novas tecnologias e práticas modernas para manter a competitividade. Portanto, o processo de sucessão deve ser cuidadosamente estruturado, garantindo que a nova liderança esteja preparada para gerenciar tanto os aspectos tradicionais quanto as inovações necessárias para o sucesso a longo prazo do negócio familiar rural.
Profissionalização dos membros da família
Os familiares envolvidos nos negócios devem desenvolver um perfil profissional e adquirir as habilidades necessárias para assegurar a sobrevivência, a continuidade e a expansão da empresa. Além do conhecimento técnico sobre as atividades, é crucial que esses membros se aprimorem em gestão e administração rural.
Separamos algumas dicas nesse sentido:
- Cursos e certificações: invista em cursos de gestão empresarial, liderança administração rural e agropecuária para atualizar e expandir o conhecimento dos familiares.
- Workshops e seminários: participe de eventos do setor para adquirir novas habilidades e conhecer as tendências e melhores práticas.
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Mentoria: busque a orientação de profissionais experientes ou consultores especializados que possam oferecer conselhos práticos e estratégias para melhorar a gestão.
- Relacionamento: conecte-se com outros profissionais do setor para trocar experiências e aprender com as melhores práticas de gestão.
Para garantir que o negócio familiar siga em constante evolução, é fundamental manter uma mentalidade de aprendizado contínuo e estar aberto a experimentar novas ideias, processos, tecnologias etc.
Adaptação às novas tecnologias
A introdução de novas tecnologias no campo trouxe ferramentas que facilitam a produção e melhoram a coleta de dados, como a agricultura de precisão, resultando em avanços significativos na produtividade.
No entanto, algumas famílias ainda mostram resistência à inovação e preferem manter métodos antigos, o que pode comprometer a competitividade. Adaptar-se às novas tecnologias é fundamental para a eficiência da gestão e dos processos produtivos.
Gestão financeira
A administração financeira de uma empresa familiar no agro também apresenta desafios, especialmente quando há confusão entre as finanças pessoais e as do negócio.
A transição da gestão tradicional, com anotações manuais, para sistemas modernos, pode ser difícil devido a aspectos culturais enraizados. Contudo, a gestão financeira eficiente é crucial para o sucesso da empresa e pode ser determinante em um mercado competitivo.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas aumentaram a incerteza para as atividades que dependem das condições meteorológicas. As variações climáticas, como períodos de seca seguidos por enchentes, e a emergência de novas pragas, afetam a produção.
Portanto, é essencial utilizar tecnologias que permitam prever o tempo e reduzir os impactos climáticos, reforçando a necessidade de adaptação constante às inovações para mitigar esses efeitos.
Falamos mais sobre esse tema no artigo que explica como lidar com os desafios em empresas familiares. Confira!
Conectividade rural
A falta de conectividade em propriedades rurais brasileiras, particularmente em zonas mais afastadas de grandes centos, representa um desafio significativo para o desenvolvimento da agropecuária familiar.
Esse problema afeta não apenas a comunicação, mas também a implementação de tecnologias avançadas que são cada vez mais essenciais para a competitividade no agronegócio.
Dificuldade para implementar novas tecnologias
A falta de acesso à internet limita a capacidade de utilizar tecnologias de agricultura de precisão, que dependem de dados em tempo real para otimizar a gestão de culturas e o uso de insumos, por exemplo. Além disso, tecnologias como drones e sensores são menos eficazes sem uma conexão estável.
Gestão e planejamento deficientes
A conexão limitada ou inexistente prejudica também a comunicação com fornecedores, clientes e parceiros, acaba se tornando complexa, gerando atrasos em negociações e obtenção de informações cruciais para o andamento da atividade. Do mesmo modo, a resolução ágil de problemas também pode ser afetada pela impossibilidade de acionar rapidamente a assistência técnica.
A boa notícia é que já existem tecnologias capazes de levar conexão à internet para qualquer lugar, mesmo regiões remotas. No Broto, contamos com parceiros que desenvolvem projetos sob medida, que vão desde a instalação de antenas no local até a disponibilização de sinal via satélite. Visite a loja e conheça as opções.
Enfim, qual é a principal diferença entre os dois setores?
O agronegócio envolve grandes operações comerciais com foco em eficiência e lucro. Utiliza tecnologias avançadas, processos industriais e cadeias de produção e distribuição extensivas. É caracterizado por operações em larga escala, com uma estrutura mais corporativa e profissionalizada.
Por outro lado, a agricultura familiar se refere a pequenas e médias propriedades geridas principalmente por membros da mesma família. Tem foco maior em práticas tradicionais e sustentáveis, com menos dependência de tecnologias avançadas, embora venha aumentando a adoção delas.
Os negócios familiares costumam focar o atendimento ao mercado local ou regional. A gestão e as decisões são feitas pela própria família, o que pode levar a uma abordagem mais pessoal e adaptada às necessidades locais. O agronegócio, por sua vez, tem grande foco em exportação.
Outra diferença é que os grandes produtores costumam se especializar em um único gênero de alimentos, como a soja ou o milho, geralmente destinado à exportação e também à alimentação de animais para a pecuária. Já os negócios familiares, geralmente, são investem em policultura.
Para concluir, já que as questões ambientais são um desafio em comum para os dois setores, recomendamos a leitura do nosso artigo sobre crédito de carbono. Entender os impactos desse tema e como aproveitá-lo no seu negócio, qualquer que seja o porte dele, é um grande diferencial.
Nascemos para ajudar os produtores rurais a expandirem os seus negócios de forma segura e sustentável. Temos produtos, serviços, cursos, informação, eventos e muito mais! Um ecossistema digital completo. Somos o seu jeito digital de fazer agro.
setembro 26, 2021 às 6:00 pm
Gostei, muito do conteúdo bem exclarecedo.
setembro 28, 2021 às 10:24 am
Oi, Adelica. Como vai? Ficamos felizes que tenha gostado do texto. Obrigado pela visita ao nosso blog e volte sempre. 🙂 Até mais!
novembro 9, 2021 às 5:49 pm
Muito bom
novembro 11, 2021 às 9:55 am
Ficamos felizes que tenha gostado, Maria Laura! 🙂
dezembro 6, 2021 às 8:06 pm
Muito boa a matéria totalmente entendida pelo que mais precisa entender o agricultor.
dezembro 7, 2021 às 9:24 am
Ficamos felizes que tenha gostado, Geovanni. Escrevemos os artigos com muito carinho, buscando sempre ajudar de alguma forma os produtores rurais. Obrigado pelo comentário! Grande abraço do time Broto!
abril 26, 2022 às 1:21 am
Precisamos agroanecio pra pode crescer.
outubro 5, 2022 às 12:47 am
Parabéns!!! Gostei muito.
outubro 5, 2022 às 11:00 am
Oi, Dalva! Ficamos felizes que tenha gostado! Obrigado por compartilhar com a gente! Abraços do time Broto!
dezembro 9, 2022 às 10:14 am
O conceito de agronegócio foi desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg. Nasceu com a expressão “agribusiness”, nos EUA, em 1955. Os autores destacaram que: “agribusiness era a soma total de todas as operações envolvendo a produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção dentro da fazenda; o armazenamento, processamento e distribuição de produtos agrícolas e dos itens produzidos a partir deles”.
No Brasil, o conceito surgiu nos anos 80, com a expressão “Complexo Agroindustrial”, que evoluiu mais tarde para agronegócio.
Mais do que a expressão, o que importa é o conceito de que agronegócio – de base empresarial ou familiar – envolve toda a cadeia produtiva: “o antes da porteira, o dentro da porteira e o depois da porteira da propriedade”, ou seja, não importa se é a produção é patronal ou familiar, tudo são agronegócios.
dezembro 16, 2022 às 7:38 pm
Oi, Patricia. Como vai? Muito obrigado por seu comentário e contribuição sobre o tema. Grande abraço!
setembro 15, 2023 às 9:49 am
achei muito informativo e ajudou muito no meu entendimento pessoal e escolar
setembro 18, 2023 às 10:58 am
Oi, Filipe! Que bom saber que o conteúdo foi útil para você. Conte sempre com a gente. Grande abraço!
março 5, 2024 às 9:08 am
nos últimos anos temos visto que os governos estabelecem orçamentos anuais.
Peço mostrar os orçamentos previstos para cada ano, tanto da agricultura familiar e do agro, para vermos o crescimento!
julho 17, 2024 às 10:50 am
Oi, Joel. Como vai? Você pode conferir os montantes disponibilizados pelo governo para o Plano Safra 24/25 nos links a seguir:
Familiar – https://blog.broto.com.br/plano-safra-24-25-da-agricultura-familiar/
Empresarial – https://blog.broto.com.br/plano-safra-24-25-da-agricultura-empresarial-disponibiliza-r-40059-bilhoes/
Já os valores para a safra anterior estão em:
Familiar – https://blog.broto.com.br/plano-safra-2023-2024-agropecuaria-familiar/
Empresarial – https://blog.broto.com.br/plano-safra-2023-2024-agropecuaria-empresarial/